Por Erika Hofling Epiphanio
Em momentos que antecedem a Olímpiada do Rio, já nos
sentimos ansiosos por saber como nossos atletas irão desempenhar durantes as competições.
Sentimo-nos ansiosos antes mesmo do início pensando quais os atletas serão
convocados para representar o Brasil nos jogos olímpicos e paraolímpicos do
Rio. Enfim, a ansiedade é algo bastante presente na vida de cada um de nós,
quando buscamos algo, quando esperamos por algo, ou quando nos encontramos
diante do inesperado. Com isto a ansiedade é um fatores psicológicos bastante
presente quando falamos de desempenho esportivo, sendo que o desempenho
esportivo é resultado de uma busca incessante de atletas e equipes esportivas.
O desempenho é a realização de sonhos esportivos, sociais e econômicos e o
resultado de uma competição é sempre o inesperado. Um jogo, uma competição, uma
luta, mesmo quando se tem um favoritismo, o seu resultado pode ser
imprevisível.
Como vimos, a ansiedade sempre esteve presente no
esporte, principalmente quando falamos de alto rendimento, sendo este um dos
aspectos psicológicos mais estudados por pesquisadores do mundo todo a fim de
compreender como a ansiedade age sobre o indivíduo, suas causas, sintomas e
como podemos controla-la.
A ansiedade, muitas vezes, é vista como o pior adversário
de muitos atletas que veem seu preparo físico e técnico, desenvolvido por muito
treinamento, sendo abalado por estados de ansiedade mal administrado, levando
um atleta bem preparado a vivenciar uma grande frustração por não conseguir
comandar o corpo a executar aquilo que ele se preparou por longos e exaustivos
treinos.
As desastrosas consequências da ansiedade são presentes
desde que se começou a se focar em esportes de alta performance. A medida que o
conhecimento sobre técnicas e táticas de treinamentos esportivo evoluiu e os
atletas bem preparados com a ajuda de tal conhecimento se viram de certa forma
mais próximos em habilidades físicas, com isto os fatores emocionais começam a se
evidenciar justificando muitas vezes o resultado de uma competição e entre
estes fatores, sem dúvida, a ansiedade o maior vilão. Desde então as
investigações sobre ansiedade e desempenho ganharam espaço no meio científico,
desenvolvendo-se testes para avaliar a ansiedade e seus sintomas, criando
instrumentos que identificassem respostas psicofisiológicas que ajudassem os
cientistas, treinadores e atletas a
compreenderem melhor como o corpo responde ao efeito da ansiedade e
ainda mais recentemente desenvolvendo técnicas de controle da ansiedade através
de equipamentos desenvolvidos por neurocientistas que conseguem treinar algumas
capacidades de controle emocional.
É fato que toda esta evolução científica tem auxiliado
muito o desempenho de atletas, no entanto ainda é necessário refletir sobre a
pessoa que sofre destes sintomas, para isto farei uma breve e simples
apresentação do que é ansiedade e de como tenho me deparado com a mesma ao
longo de mais de 20 anos trabalhando como psicóloga no contexto esportivo.
A Ansiedade é uma ativação geral do organismo decorrente
de alguma solicitação emocional importante, isto é, sempre que estamos diante
de algo novo, ou que não conhecemos, ou que nos sentimos de alguma forma
pressionados a termos uma determinada resposta, nosso corpo como um todo
responde a esta solicitação aumentando batimentos cardíacos, aumentando os
pensamentos de preocupação, enfim, ficamos apreensivos e o corpo entra em um
desequilíbrio por conta do medo de não dar certo, de algo acontecer, de não
conseguir. No entanto, estes sintomas nem sempre são negativos e muitas vezes
necessários, pois também indicam o comprometimento do indivíduo com tal ação, o
que nos mostra que a ansiedade está diretamente relacionada com a
motivação. Por isso há muito tempo tem
se falado na Psicologia do Esporte no nível ótimo de ativação, é como se
pudéssemos identificar um nível eficiente de ansiedade que vai variar de acordo
com algumas peculiaridades pessoais, mas também das características da
modalidade a ser executada. Por exemplo, esportes que exigem maior concentração
como o tiro ao alvo, o atleta deve ter um nível de ativação corporal mínimo
para executar o movimento com maior eficiência, já um atleta velocista
necessita estar já de certa maneira bastante ativado na largada de sua prova
para ter o corpo preparado para a explosão máxima do corpo em busca de tal
resultado e um maratonista tem que ter um bom controle desta ativação para que
não gaste energia demais no início da prova o que poderia leva-lo a não
conseguir completar o percurso todo com a mesma eficiência.
Algumas situações que são presentes dos relatos de
atletas demonstram os efeitos
desastrosos da ansiedade em atletas, como: atleta que não consegue
dormir antes de uma competição, logo, já começa a prova em desvantagem já que
faltou um dos mais importantes aspectos para um bom desempenho que é o repouso;
fundistas que não conseguem gerenciar a sua força por iniciar a prova tão
ansioso que impõe um ritmo muito forte, logo seu corpo se desgasta antes do
tempo; um jogador de voleibol que erra um saque em um ponto decisivo, sendo
este um fundamento muito treinado do qual depende apenas do jogador, o mesmo
podemos dizer de um jogador de basquete em um lance livre ou um jogador de
futebol que na cobrança de pênalti chuta fora do gol; um lutador que entra no
ringue com pensamentos negativos com relação ao resultado da competição e não
consegue lutar como se preparou. Estes são alguns exemplos, mas são tantas as
estórias de atletas que perdem para a ansiedade que inclusive criou-se no meio
esportivo o termo leão de treino, que diz do atleta que treina como um leão e
na competição mostra-se frágil.
Apesar de grande evolução nas tecnologias para avaliar e
controlar a ansiedade esta ainda é presente prejudicando muitos atletas e
equipes esportivas.
Penso que tais desenvolvimentos tecnológicos são, sem
dúvida, muito relevantes para quem trabalha com o esporte e principalmente com
Psicologia do Esporte, porém antes de técnicas e avaliações é de fundamental
importância conhecer como cada atleta sente, quais a suas causas para elevar
sua ativação a ponto de prejudicar seu rendimento e ainda conhecer como estes
efeitos o abalam e como cada um pode administrá-lo. Este é um processo de
autoconhecimento facilitado por psicólogos que trabalham diretamente com a
pessoa do atleta e não como máquinas esportivas. Esse é um processo humano que
visa auxiliar o desenvolvimento de cada um a se sentir mais eficiente e
comprometido com suas próprias conquistas. E penso que, infelizmente, os altos
investimentos políticos e econômicos no esporte tem sido um fator poderoso na
elevação dos níveis de ansiedade no meio esportivo, justificado pela altíssima
pressão que atletas vivem para atingir resultados que elevem as marcas dos
patrocinadores, aumentando o sofrimento no esporte e reduzindo o espírito
esportivo, que mantem a leveza e a beleza das expressões do esporte.
No mês de junho nosso encontro com os atletas da APA teve
como tema a ansiedade e para conversar e refletir sobre isto com nossos atletas
foi realizado um momento de relaxamento e técnica mental como um recurso que
possa auxiliá-los na busca de seus objetivos.
Os atletas presentes e os treinadores puderam vivenciar
uma técnica de relaxamento e compartilhar experiências em que a ansiedade esteve
presente, sendo este um momento importante na busca do autoconhecimento de cada
um, sendo este um aspecto relevante na busca de superação de suas marcas e
fraquezas, rumo as conquistas.
Algumas indicações de leituras:
Conde, E; Teixeira, F.; Lacerda, A. (2014) Monitoramento
do tempo de reação como estratégia de avaliação cognitiva e acompanhamento psicológico
de judocas. Revista Ciência e cognição,
v.19, n.3. http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/940
Matos, T.S.Q; Silva, V.A.R. (2014) Influência da
Ansiedade pré-competitiva no atletismo. Coleção
Pesquisa em Educação Física, v. 13, n.3. http://www.fontouraeditora.com.br/periodico/vol-13/Vol13n3-2014/Vol13n3-2014-pag-81-90/Vol13n3-2014-pag-81-90.pdf
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