O texto de hoje é de uma aluna do 3º período de Psicologia da UNIVASF, que foi produzido para a disciplina de Psicologia Fenomenológica-Existecial II. Um texto sensível em que reflete sobre cuidado, a partir de uma experiência em um evento científico.
Por Mariana de Castro
Moura Granja
Relado de experiência sobre
vivência no minicurso “Amor como fonte de
cuidado, cerne da vida e do conhecimento”, que aconteceu no 1º Congresso de Psicologia do Vale do São Francisco, ministrado pelo prof. Alexandre
Barreto.
Me atento a iniciar esse relato notificando o quanto a
participação desse minicurso abriu meus olhos para uma realidade presente no
campo acadêmico e profissional. Realidade essa que é a falta de amor existente
nesses meios em que vivemos, pois, parte da ciência já se desatrelou do que é
“humano”. Assim, pode ser feita uma relação entre o que foi trazido pelo
minicurso atrelado ao estudo da fenomenologia sobre o cuidado, muito bem
abordado por Heidegger.
Primeiramente, vale ressaltar o quanto a experiência de
cuidar do outro foi ressaltada nesse encontro, desde conversas e demonstração
de experiências, a momentos de afeto. Percebi durante aquele momento o quanto
as pessoas traziam suas histórias e com elas toda uma relação com o mundo e com
os outros, tanto coisas boas como coisas ruins. O que ficou claro é que nunca
eram sozinhas. Nesse âmbito, logo pude relacionar isso a questão do
ser-no-mundo e do ser-com-os-outros, ser este carregado de feridas,
expectativas, vitórias e derrotas, um ser no mundo e em suas relações. E também
ao que disse Heidegger, que a palavra “cuidado” é usada para expressar a
característica ontológica do Dasein de estar sempre referido a outro ente.
Lembro, no início
do meu envolvimento com a fenomenologia, quanto estudei sobre “atitude natural”
e “atitude fenomenológica”, e, naquele momento tive a oportunidade de olhar o
outro a partir da atitude fenomenológica, quando pude me desarmar de todas as
opiniões formadas, e olhar o ser a partir do “nada”, “nada” este trazido por
Heidegger como sendo “às coisas elas mesmas, sem a construções feitas”, tal
como elas aparecem, se dão, para a consciência.
Durante aquele momento pudemos viver algumas experiências
consigo e com os outros, e assim pude perceber a importância das relações para
a vida, para a formação do conhecimento e para o cuidado com o outro. Esse cuidado
se baseia em como muitas vezes olhamos para esse outro. Em um momento de
contato com uma pessoa que também participava do encontro, estávamos uma de
frente para a outra e olhando nos olhos. Pude perceber a dificuldade de se
olhar no olho de alguém por muito tempo, pelo fato de na correria do dia a dia
não ter esses momentos. Olhar e enxergar no fundo daquele olhar o que ele
tentava me falar, me gritar, ou simplesmente silenciar.
Nesse sentido, parei para refletir o quanto os preceitos
morais e sociais influenciam na expressão do amor, no exercício de cuidado com
o “ser” outro no dia-a-dia. Influenciam no sentido de que vivemos muito de
acordo com o que a sociedade infere como certo e errado e também quanto mais
velhos vamos ficando mais trancamos esse amor, a depender das experiências que
tivemos. Daí pode-se relacionar isso ao amor trazido pela criança, pois essas
são abertas ao amor pelo fato de não ter tantas experiências negativas e pela
sua pureza. Essa reflexão para o amor me fez perceber que somos realmente
seres-no-mundo, com suas relações e experiências, e também transformados por
elas. Temos nossa forma de existir.
Referências
SANTOS, D.G.; SÁ, R.N. A existência como
“cuidado”: elaborações fenomenológicas sobre a clínica psicoterapêutica. Anais do congresso de fenomenologia da
região centro oeste. 2011.
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