Por
Hugo Gabriel e Leomara Lima
No dia 16 de maio de 2025, aconteceu o terceiro encontro do Com-Versas do
NEPFEE, que teve como tema “Corporeidade como presença nos atendimentos
psicoterapêuticos online”, tendo como convidadas as psicólogas Gisele Rossi
(CRP 42.026-0) e Marta Magalhães (CRP 06/24.728-1), com mediação da
coordenadora do NEPFEE, profa. Erika Epiphanio.
O encontro proporcionou uma rica discussão sobre os desdobramentos da
prática clínica online, intensificada com a pandemia de covid-19, que trouxe um
novo modo de viver e de olhar na vida de muitos, e esses novos modos não se
restringiram ao momento pandêmico. Muitas práticas resistiram à passagem do
tempo, como os atendimentos psicoterapêuticos online, que antes da pandemia,
não eram tão comuns e conhecidos. Hoje, essa prática é muito frequente, e, a
despeito das inegáveis vantagens dela, a facilidade de acesso onde quer que se
esteja, há reveses que devem ser levados em consideração, tais como a
corporeidade como presença. Neste contexto, qual o papel da corporeidade?
Conforme a profa. Erika ressaltou,
para Perls, a leitura da corporeidade é uma forma de compreensão do sujeito.
Certamente é uma inquietação que se coloca a leitura de um corpo que, além de
distante, está emoldurado em uma pequena tela que fornece vislumbres tão
ínfimos, fragmentados e incompletos da sua expressão corporal. A linguagem
constitui o ser, como nos assevera Heidegger, e essa linguagem está presente
também no corpo, conforme Merleau-Ponty. A postura do corpo, a forma como se
posiciona no ambiente, como se acomoda no assento, como gesticula, tudo isso
importa na leitura de uma expressão emocional, de ideias e do pensamento.
Constituem-se, assim, como partes fundamentais e imprescindíveis do encontro.
No entanto, o fato da terapia ser online, apesar dos desafios, não desabona o
caráter de encontro entre seres-no-mundo. É, também, um privilégio para o
terapeuta adentrar o universo do cliente, observando o seu entorno, a música
que escuta, dentre outros detalhes.
Gisele fez a feliz colocação de
que o atendimento é online, mas é real. Marta Magalhães, por sua vez, refletiu
sobre como o espaço digital desafia e, ao mesmo tempo, reinventa criativamente
o modo de estar com o outro. Inclusive, Marta, que tem experiência na
psicologia do esporte, fez considerações a respeito do atendimento online de
atletas de alto rendimento, que muitas vezes são atendidos enquanto estão na
quadra, enquanto estão no ônibus rodeados por outras pessoas, de modo que eles
acabam frequentemente escrevendo em vez de falar. Esse pode ser o único momento
de que dispõem para se engajarem no acompanhamento psicológico, então a
modalidade online acaba sendo uma amiga para essa finalidade. Ademais, também
foi comentado a respeito da relação entre a psicologia do esporte e a
psicologia do exercício, e o quanto esta é abrangente, no sentido de não apenas
cuidar do cliente no âmbito mental, mas no seu modo de estar no mundo e com os
outros.
A corporeidade, portanto, não se perde completamente no online, ela se transforma, exigindo uma escuta mais atenta ao não dito e uma sensibilidade ampliada para a presença que se dá, mesmo à distância. Como bem sintetizado por Gisele: "O atendimento é online, mas é real".
E como colocado
pelo fenomenólogo Merleau-Ponty: “O
corpo é nossa maneira geral de ter um mundo.” Mesmo diante da tela, é por ele
que nos fazemos presença, gesto, encontro.
Nosso encontro foi
extremamente rico, caso queira assistir ou rever essa Com-Versa, clique
aqui: https://www.youtube.com/live/bI_F7RdW9g0?si=E1cIroTC2M0GUcDL,
até o nosso próximo Com-Versas.
Indicação de
leituras
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/filosofia/fenomenologia-da-percepcao
https://tedebc.ufma.br/jspui/handle/tede/4966
MERLEAU-PONTY,
Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de
Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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