Luto e presença: quando a falta se faz presente

 Por Filipe Silva

Ocorreu, na última quarta-feira (30/04), o segundo Com-versas do NEPFEE do ano. O tema desse bate-papo foi “Luto e presença: quando a falta se faz presente”, que apesar de rotineiramente ser uma temática que carrega muito tabu, a com-versa foi leve, sensível, e ao mesmo tempo potente, devido aos convidados da vez, os psicólogos Ramessa Tenório (CRP- 02/17.243) e Natan Sudário (CRP- 02/ 28.818).

A eventualidade ou concretude de perder alguém, o lidar com a finitude da existência, nos atravessa desde sempre, e ainda assim costumamos viver como se o fim das possibilidades não existisse. Por isso que esse assunto precisa ser discutido para (re)direcionar a rota de um tema que pode causar desconforto ou fuga para algo potencializador.

Um dos assuntos discutidos desse bate-papo foi o luto por suicídio, que traz muito estigma, já que traz nuances diferentes em relação ao tema, pois a mudança na lógica da morte, enquanto algo que ocorre sem a nossa escolha direta. Uma das questões que foi discutida é a busca pelas justificativas e respostas simplistas, sendo que frente a esse recorte dificilmente houve apenas um motivo, além de que ter acesso a essa resposta, não minimiza ou apazigua a dor. Outro assunto abordado foi o sentimento de culpa que pode ser muito presente para os que eram próximos, pois podem vim questionamentos do que deixou de ser feito que poderia ter salvado aquele indivíduo, no entanto a morte por suicídio, infelizmente, não é facilmente prevista. Mas, claro, estar atento e presente aos sinais é indispensável.
O uso das mídias sociais, principalmente considerando o período da pandemia da covid-19 em que a reunião presencial entre os sujeitos foi interrompida, ampliou a possibilidade de ser um espaço para se expressar após uma perda, inclusive dos lutos ditos não reconhecidos, como a morte de um animal de estimação ou o rompimento de um relacionamento. Houve um aumento das homenagens que contribuem para relembrar, honrar a memória, ou seja, uma forma de se expressar para não ocultar esse sentimento, além da possibilidade de criar grupos virtuais para falar sobre o luto.
Em relação a isso, os grupos de apoio ao luto são a principal ferramenta para vivenciar a perda, pois torna-se um terreno de permissão para se expressar sem ser julgado. Além disso, o estar presente pode ser a melhor resposta de cuidado para quem está lidando com o luto. E para quem está passando pela perda, é importante se ouvir e se olhar para compreender como essa perda te atravessa e não se limitar ao que a cultura e as teorias, que apesar de serem importantes, ditam e buscam determinar sobre de que forma o luto deve ser vivido, até porque esse processo é extremamente único e subjetivo, e não tem um tempo ou uma maneira correta de ser vivenciado.


O luto enquanto consequência de uma perda, de um rompimento de algo que se vinculou, precisa ser sentido e respeitado, já que quando não se reconhece e tenta ignorar a dor desse luto, no fim, não se reconhece o valor do vínculo de quem partiu. A psicologia tem o papel, frente ao luto, de garantir, principalmente, um espaço para acolher e escutar o que o sujeito tem a expressar, buscando assegurar dignidade e respeito.
Caso queira assistir ou (re)assistir a essa com-versa, clique aqui: 
https://www.youtube.com/live/WMUKq0MRDg8?si=db72nePoHhcqmbjW. E mês que vem teremos mais um bate-papo enriquecedor. Tchau, tchau e até breve.

Indicação de leitura.
Caso queira se aprofundar mais sobre o tema, esse material Joanneliese de Lucas Freitas, cujo título é “Luto e Fenomenologia: uma proposta compreensiva”, que você pode encontrar aqui: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1809-68672013000100013&script=sci_abstract, é bastante enriquecedor

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