Por Erika Hofling Epiphanio*
O convite para ser comentarista da obra A CURA E O TEMPO: ENTRE PROSAS DAS (DES)ORDENS DO EXISTIR, me surpreendeu e me desafiou.
Nunca tinha feito isto antes, mas
por ser um convite de Clara, já de antemão não podia e nem queria negar.
Quando confirmo a data, logo vejo
que tenho disponibilidade e na sequência vejo que é véspera de um evento bem
complexo que estou organizando, que no caso será amanhã, mas poxa era para
comentar o novo livro de Clara, e com muito afeto e desejo de estar aqui, aceito.
Aceito, mas fica o desafio, tenho
que dar conta da demanda, ler a obra toda e fazer estes comentários que
compartilho com vocês agora.
E sou destas pessoas organizadas
com demandas de trabalho, criei meu planejamento para que desse conta da
demanda no tempo necessário.
E conforme ia cuidando desta demanda, fui percebendo que neste “trabalho”, eu ia cuidando um pouco de mim... que a cada leitura que fazia, havia um alívio, do estresse, de dores, de pressões... e trabalho.
O tempo dedicado ao trabalho se torna CURA, como o
próprio título da obra se refere.
NESTE MOMENTO QUERO AGRADECER
MUUUUUITO A CLARA, POR ME OFERECER ESTA DEMANDA, OU PRESENTE, Pois se não fosse
demanda, não teria me dedicado a leitura desta obra, neste momento, por falta
de tempo.... curioso isso né?
Mas vamos lá.
Primeiramente tenho que tecer
alguns comentários sobre a autora.
Clara foi minha aluna, em uma das
primeiras turmas que lecionei quando cheguei na UNIVASF, e logo se destaca pela
profundidade nas reflexões feitas nas aulas, no seu amor pela educação e seu
cuidado a tudo que envolve a educação, sendo uma das responsáveis por hoje eu
atuar em contextos educacionais por meio de meus projetos.
Clara, logo se identifica com a
fenomenologia, abordagem da qual sou responsável pelas disciplinas no curso de
psicologia da Univasf e isso nos aproxima. Nos tornamos parceiras em várias
aventuras acadêmicas e com muito orgulho digo a vocês, logo superou sua mestre
no conhecimento sobre autores da fenomenologia existencial, pois mergulhou
fundo na compreensão de obras complexas como as de Heidegger, que para mim, até
hoje é muito desafiante compreender este autor.
No texto, Clara traz uma análise
sensível sobre o ofício do psicoterapeuta e acho isso tão lindo e me colocou a
refletir mais uma vez, que nossas existências se cruzaram por conta desta
escolha. Clara em um momento de sua vida escolheu ser psicóloga e eu professora
de psicologia.
Clara foi uma aprendiz que muito
me ensinou e ainda ensina a “mestre” aprendiz. Trazendo o cuidado como
disposição pelo encontro que exige o se conhecer, reconhecer nossas dores, para
sim, como gente cuidar de gente.
Uma das coisas mais bacanas que encontrei no livro, foi que Clara toca em aspectos conceituais de autores difíceis, com tanta leveza que se torna simples, simples de compreender, o que é tão difícil de viver. Esta é uma das marcas deste livro: acessível, leve e sensível.
No início da leitura, nos
deparamos com um prefácio que indica o caráter de encontros em que a obra foi
gestada.
Uma trajetória pessoal e
profissional da autora.
Claramente, Clara tem muito a nos
dizer, em relatos construídos em dores e afetos, resistência, cuidado e
encontros potentes e transformadores.
É um livro autobiográfico? Sim,
mas não só.
É um livro de autoajuda? Sim, pois
em certa medida nos ajuda a refletir sobre questões importantes sobre a vida,
mas não só.
É um livro de psicologia? Também,
pois traz conteúdo de grande valia para profissionais da área. Uma psicóloga
brilhante como Clara, que de tão generosa que é, compartilha conhecimento sobre
a área, sobre manejo terapêutico e sobre o cuidado ao outro.
Na verdade, uma das marcas da
obra é a LIBERDADE.
Clara se mostra livre quanto a
gênero literário e nos apresenta seu olhar, um olhar construído por histórias,
conhecimento e profissionalismo.
A CURA E O TEMPO: ENTRE PROSAS
DAS (DES)ORDENS DO EXISTIR , é um livro sobre a coragem de ser e resistir as
aberturas da existência. Resistir as amarras do viver cotidiano que acelera o
tempo e nos afasta dos encontros.
O cuidado existencial é
tematizado em toda a obra com muita delicadeza, da forma que se é necessário.
Tema que tenho muito apreço na minha profissão.
Clara na obra reflete de como a
cura se dá pelo cuidado, em um ato de coragem, pois a dor se faz presente no
processo. Quando temos que curar uma ferida precisamos limpá-la, o que gera
dor. E para desenvolver este tema,
Clara fala do poder dos vínculos, que tornam o processo mais “suportável”, pois
há suporte e este acontece pela via do afeto, seja este o afeto na relação
terapêutica, ou de relações que se constroem com intimidade e respeito ao ser
do outro.
O texto, é terapêutico. Sabe aquelas coisas que lemos a balançamos a cabeça em concordância? É assim no início ao fim!
O luto é um dos temas importantes da obra, pois Clara diz que escreveu como forma de enfrentar seu luto. Ao falar sobre o luto traz reflexões sensíveis, recheada da mais pura humanidade de quem sente a dor da necessidade de se apegar a presença de um outro que se foi. Quem nunca viveu isso?
Ler com as palavras de Clara,
parece mais claro, mas verdadeiro, assim como o amor. Considerando o amor como o
que Clara traz na página 72 “ao amar alguém se ama a verdade da pessoa, seus
lados luminosos e sombrios”.
Achei isto de uma sabedoria!
Sério me impactou!
Ao versar sobre o amor, há boas
reflexões sobre as relações humanas e a necessidade do autoconhecimento para
que possamos apresentar nossas verdades ao estar com o outro e o diálogo surge
como acesso a sermos nós mesmos e aí quero colocar algo pessoal, do encontro
com Clara. Uma pessoa que AMMMMOOOO dialogar, sempre tenho a sensação de que o
tempo não é suficiente para o tanto que temos para trocar.
E aqui junto com uma outra
reflexão super pertinente do livro que é sobre a ansiedade, que Clara afirma
ser a vilã e companheira do diálogo.
O mal da sociedade atual é que
sempre corremos contra o tempo, corremos contra a vida e com isso corremos
contra o encontro e gosto de uma provocação que Clara nos traz de como a
criatividade nos move para escolhas mais significativas de viver a vida, não
como antidoto da ansiedade, mas como abertura para dialogar com as angústias da
existência.
Ao tocar sobre o sofrimento
psíquico, temos um olhar sensível que nos oferece reflexões sobre o adoecimento
contemporâneo, em um momento da existência que o tempo se manifesta como
gatilho e impedimento de estar com o outro.
Tem uma frase, que anotei, pois,
gostei muito, pois diz muito.
EXISTIR É ENFRENTAR O CAOS E A
DESORDEM.
E para que possamos cuidar de
nossas relações precisamos olhar para nosso caos e buscar cuidar desta desordem
para encontrar acesso ao que é do outro.
O livro encerra com um belo
convite a nos perdoar, como ação de cura, de cuidado.
O livro é poesia do início ao fim
e quero destacar que isso não aparece apenas nos textos, mas também na
ilustração que também é obra desta escritora, psicóloga e educadora exemplar, que tenho o privilégio de chamar de amiga.
Obrigada Clara pelo convite de
estar aqui, mas principalmente expresso minha gratidão por compartilhar seu
olhar com o público leitor que poderá acessar suas escritas.
Enfim, o livro é arte, amor,
afeto e saberes e sabores.
*Texto apresentado no lançamento do livro A CURA E O TEMPO: ENTRE PROSAS DAS (DES)ORDENS DO EXISTIR, no dia 30 de maio de 2025.
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