O texto de hoje foi escrito por mais uma convidada especial
Adriana Amaral é Psicóloga formada pela UERJ (2005). Gestalt-terapeuta. Doutoranda em
Psicologia Social (UERJ). Psicóloga do Centro de Educação Física Almirante
Adalberto Nunes (CEFAN), da Marinha do Brasil, desde 2010, trabalhando com
modalidades esportivas como futebol feminino, ultramaratona e pentatlo naval.
Ajudou a criar o Grupo de Trabalho em Psicologia do Esporte do CRP-RJ em 2008.
Membro das gestões 2009-11, 2011-13 e 2013-15 da Associação Brasileira de
Psicologia do Esporte (ABRAPESP).
Por Adriana Amaral
A Psicologia é uma
ciência constituída por diferentes abordagens. Cada uma delas possui
compreensões distintas sobre o ser humano e utiliza metodologias diferentes em
sua forma de trabalho, embora todas tenham o mesmo objetivo, que é o de
compreender e ajudar a pessoa a crescer pessoalmente, conhecer melhor suas
características, superar suas dificuldades.
Na Psicologia do Esporte
não é diferente. Também existem múltiplas possibilidades de atuação do
psicólogo de acordo com a abordagem adotada, embora com o objetivo em comum de
auxiliar o atleta na busca pelo rendimento e no seu crescimento como pessoa.
A abordagem gestáltica
ainda possui pouca inserção na área desportiva, embora com resultados muito
positivos daqueles que a utilizam. Vem sendo feito um esforço por parte de
alguns profissionais gestalt-terapeutas e psicólogos do esporte em aproximar estas
duas teorias para que a prática da Psicologia do Esporte possa se beneficiar
dos conceitos da Gestalt, contemplando aqueles profissionais que não se veem
representados por algumas outras visões de homem que são predominantes no campo
esportivo. Surgem, assim, outras possibilidades de diagnóstico e de intervenção
mais coerentes com aquilo que o gestalt-terapeuta acredita.
O objetivo principal do
trabalho em gestalt-terapia é o aumento da conscientização (awareness), auxiliando a pessoa a
descobrir mais recursos para lidar com situações diversas e adversas. O
objetivo é o crescimento e a autonomia, com um aumento da consciência. Assim, no
esporte, a intervenção focada no aumento da awareness
visa a um atleta mais inteiro, integrado, com capacidade de lidar com
adversidades por ter um bom autoconhecimento.
A gestalt-terapia busca
um contato mais pleno da pessoa com suas emoções, apreciando todos os aspectos
de sua existência, e percebendo seu poder pessoal e sua capacidade de dar
suporte, sem culpar terceiros nem buscar suporte apenas no meio externo. Um dos
objetivos é que a pessoa se torne sensível ao ambiente que a cerca, com
capacidade de autoproteção, quando necessária.
Uma das bases do trabalho
é favorecer o contato, que diz respeito à interação do indivíduo com o meio,
consistindo na assimilação de algo novo para o organismo e culminando em
mudança. Com o intuito de favorecer o contato, a principal ferramenta utilizada
pelo gestalt-terapeuta é o experimento. Ele se constitui em atividades propostas
pelo psicólogo para que a pessoa vivencie aquilo sobre o que está falando e não
apenas permaneça no “falar sobre”. O conceito de experimento oferece ao
gestalt-terapeuta, em qualquer ambiente, a liberdade para utilizar qualquer
recurso que julgue necessário para ampliar a awareness do sujeito, seja ele uma técnica predeterminada ou uma
criação do psicólogo, desde que o objetivo seja o aumento da awareness e que resulte de diálogo e
trabalho fenomenológico. Assim, as técnicas características da psicologia do
esporte também podem ser utilizadas sob a ótica do experimento, ganhando outro
sentido, se coadunando com a avaliação diagnóstica processual, a relação
dialógica, a fenomenologia e a satisfação das necessidades, implicando o atleta
na atividade.
A base fenomenológica da
abordagem gestáltica ajuda o psicólogo a olhar o processo único que cada um experiencia,
respeitando o fenômeno que aparece no momento da competição, dos treinos ou
mesmo da intervenção psicológica. O que importa, aqui, é a qualidade da
observação e o trabalho com o fenômeno tal como ele se apresenta, confirmando
aquilo que é óbvio aos olhos com aquele que vivencia a experiência. As
possibilidades são infinitas.
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