O Nascimento do conhecimento crítico

Há cerca de um mês, estamos nos debruçando a discutir a educação brasileira e a crise que esta está inserida.
Este ciclo de textos-debates foi motivado pelo movimento grevista em que diversas universidades federais se encontram, inclusive a nossa Universidade Federal do Vale do São Francisco.
Nossas discussões têm sido extremamente ricas para nosso saber e nosso compartilhar por este veículo comunicativo. No entanto a greve continua, a crise continua e a Educação se mantém como foco de nossa preocupação enquanto educadores, enquanto pais, mas principalmente enquanto humanos que pensam, acreditam e lutam por um mundo melhor, mais justo, mais ético e mais humano.
Para iniciar a discussão de hoje cito Paulo Freire que diz “a educação enquanto ato de conhecimento é também e por isso mesmo um ato político” (1982, p. 97). Ao se pensar nesta perspectiva da educação somos estimulados a pensar em que ser humano a educação pensa em construir. 
Em textos anteriores já falamos um pouco de um movimento político educacional que promove a ignorância crítica, a obediência objetiva e o conhecimento estático, mas não é esta a educação que acreditamos e buscamos construir. Por meio de diversas leituras, experiências e também assistindo os documentários Educação.doc sugeridos por este blog, alimentamos nossos corações de esperança de que há sim outras possibilidades.
A esperança, acreditamos, que é o principal alimento para este movimento, pois se não tivermos a esperança de que é possível, através da Educação, termos um mundo melhor, a luta perde o sentido.
E o indivíduo crítico, responsável e livre é o indivíduo com possibilidade de desenvolvimento do raciocínio crítico e, sem dúvidas, o mundo e principalmente nosso país, carece de pessoas com maior poder de reflexão. Então vamos lá, refletir um pouco sobre esta possibilidade.
O Homem é um contínuo vir-a-ser em sua construção existencial, com isto a aquisição do conhecimento também é uma construção do Ser em que cada novo conceito, em cada nova experiência se constrói uma nova visão, podendo influenciar antigas percepções de realidade ou ainda podendo construir um raciocínio crítico diante do mundo.
Freire (2003) se refere a busca do conhecimento pela educação, assim como pela investigação como um ato dialógico, em que a comunicação deve ser vivenciada em um sentido comum e não vista de uma maneira estática, engessada e compartimentada, mas na realização dialógica complexa no permanente vir-a-ser existencial.
Não podemos ser o outro, não podemos vivenciar pelo outro, não podemos pensar pelo outro, mas podemos construir um saber junto ao outro, que faça sentido ao conjunto da construção, deste saber eu-tu-mundo.
O processo de construção do raciocínio crítico envolve um processo reflexivo do homem diante da realidade apresentada. É um processo que passa pela conscientização e que envolve a intencionalidade, como discutimos em texto anterior. Como afirma Loureiro “ a partir da emersão do homem da situação na qual se encontra e da compreensão desta, ele pode se inserir de forma consciente e crítica na realidade objetiva. Nesse processo, a ação do homem sobre a realidade tende a transformá-la” (2009, p.65).
No entanto, acreditamos que este movimento pode ser facilitado pela educação humanista, em que vê o educando como sujeito do processo de aquisição do conhecimento, em que pensa que educar não é transmitir conhecimento, mas criar as condições necessárias para construção e promoção do conhecimento. Então, o educador é o facilitador, que com autenticidade e respeito promove, estimula a curiosidade do educando, pois Freire (2004) afirma que não há curiosidade que se sustente na negação da curiosidade do outro, logo ensinar exige curiosidade e respeito acima de tudo, pois “é a curiosidade que insere o homem no movimento de busca” (Loureiro, 2009, p. 76).
Então para concluir este texto, devemos partir da ideia do homem ser um ser inconcluso, pois só a percepção da inconclusão é que nos torna eternamente aptos a buscar o conhecimento e à educação. Para aprender a tomar decisões e fazer escolhas é necessário vivenciar a liberdade para optar e optando é que aprendemos a ser responsáveis por nossas escolhas e assim ter  mais autonomia. E é disto que o mundo precisa, pessoas que vivenciem a humildade de ser, para respeitar e aprender e se responsabilizar por sua existência, levando a educação a uma perspectiva da ética humanista e não da ética do mercado em que hoje domina o espaço da educação.


Leituras complementares:
Freire, P. Pedagogia da autonomia-saberes necessários á prática educativa. Paz e terra, 2004.

Freire, P. Pedagogia do Oprimido. Paz e terra, 2003.Há cerca de um mês, estamos nos debruçando a discutir a educação brasileira e a crise que esta está inserida.
        

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