Quando a violência provocaDOR...

Por  Sílvia Raquel Santos de Morais e Equipe do Plantão Psicológico  CEPPSI/UNIVASF 2015  Professora do Colegiado de Psicologia da UNIVASF    
  

A atualidade nos confronta cada vez mais com episódios violentos. A espetacularização do crime e a banalização de informações envolvendo o sofrimento têm crescido a cada dia. Diante disso, assistimos a repercussões de eventos trágicos por meio de um volume assustador de notícias e imagens que se reproduzem nas redes sociais, nos aplicativos de mensagens instantâneas e na mídia em geral. Essa situação pode repercutir diretamente na saúde mental das pessoas, sobretudo, crianças e adolescentes. Ao banalizar a violência, corremos o risco da disseminação de ruídos de comunicação, pânico e fantasias que, não raro, trazem dor, sofrimento, medo e desesperança.  
Nessa última semana, assistimos a uma cena dramática no Vale do São Francisco, a morte da criança Beatriz Angélica Mota, 7 anos, brutalmente assassinada durante um evento festivo em uma escola de Petrolina-PE. O público presente era composto por cerca de duas mil pessoas que, em frações de segundos, assistiram e “noticiaram” o drama vivido pelos pais e familiares presentes; caracterizando assim, uma situação fatal. Fatalidade essa que não só traduz um crime hediondo, mas também, aponta para a violação de direitos de crianças e adolescentes em um ambiente, que em tese, deveria garantí-los. O que pensar e fazer diante disso?  
A atuação de psicólogos nesse espaço propiciou uma maior articulação da categoria na região, convocando-os para o exercício ético-político do cuidado em situações de emergências e desastres. Vale ressaltar que o fator mobilizador dessa articulação foi o contexto em que aconteceu tal tragédia, somado a recorrentes assassinatos de crianças e adolescentes na região.   
Diante disso, docentes e discentes plantonistas da UNIVASF e profissionais de Psicologia de diferentes instâncias regionais (Instituição de Ensino, Saúde, Educação e  
Assistência Social) disponibilizaram-se para assistir a comunidade mobilizada. Uma das ações desenvolvidas foi o Plantão Psicológico que, desde a última sexta feira, 11/12/2015 ocorreu no Centro de Estudos, Pesquisas e Práticas em Psicologia da UNIVASF (CEPPSI). A ação obteve o apoio do Conselho Regional de Psicologia (CRP/PE  
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O Plantão Psicológico é um projeto de extensão desenvolvido no CEPPSI/UNIVASF que acontece desde março de 2013 e visa acolher, no momento da procura, pessoas em situação de sofrimento emergencial por meio do acolhimento e da escuta clínica. A proposta é promover a construção de sentidos da experiência vivida, bem como, modos de enfrentamento. Atualmente, o projeto é realizado por quatro docentes psicólogas da UNIVASF e treze plantonistas (discentes de Psicologia do último ano do curso). Sendo assim, o plantão psicológico já vem atuando em casos de emergências psicológicas cotidianas. E sempre que possível, a equipe realiza ações pontuais diante de situações de emergências coletivas, como por exemplo, no episódio do feminicídio da estudante Rosilene Ramos do Rio ocorrido no Campus da UNIVASF em Abril desse ano, ocasião na qual, desenvolveu-se grupos com os residentes que socorreram a estudante e plantão com a comunidade que presenciou o crime. O serviço funciona todas as quintas-feiras das 13:30 horas até as 17 horas e quando acionadoapesar de contar com equipe reduzida, tem assumido (na medida de sua capacidade) o compromisso de se fazer presente de modo itinerante em circunstâncias emergenciais. No entanto, vale salientar que tal modalidade de atenção e área ainda são recentes na história da Psicologia brasileira, demandando dos psicólogos e da sociedade em geral, posturas mais compromissadas com o cuidado. Quem sabe assim, construiremos um mundo mais atento as novas gerações e quiçá, menos violento...




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