Violência escolar? Uma reflexão!


Por Emanoela Lima

“a imagem, entre nós já quase idílica, da escola como locus de fomentação do pensamento humano – por meio da recriação do legado cultural – parece ter sido substituída, grande parte das vezes, pela visão difusa de um campo de pequenas batalhas civis; pequenas mas visíveis o suficiente para causar uma espécie de mal-estar coletivo nos educadores brasileiros” (Aquino, 1998)

Em sociedade, convivemos com a violência e suas variadas faces e formas de expressá-la, seja essa física ou não física. No contexto escolar, a violência se apresenta como uma extensão das relações estabelecidas em um certo contexto social, e acaba não sendo encarada da “maneira correta”, já que envolve questões que vão desde brincadeiras e xingamentos (nem sempre levadas a sério por quem as praticam, mas que se transformam em uma velada condição para prática do bullying) até as agressões físicas em si. Porém, a questão é, que na maioria das vezes, a escola não está aberta e preparada para dialogar com a comunidade escolar sobre esse fenômeno que se faz presente no nosso cotidiano de maneira sutil e mascarada.
O pesquisador francês, Bernard Charlot, especialista no assunto, propõe uma classificação que nos possibilita compreender o conceito de três formas: violência na escola; violência da escola; e violência à escola. A primeira pode ser compreendida como uma reprodução da realidade externa ao ambiente escolar (ou seja, a instituição está inserida em contexto violento). A segunda pautada na violência por parte da instituição normas e regras ditadas que cerceia os alunos. E por fim, a terceira forma de violência se dá quando alunos ou pais depredam o patrimônio ou agridem algum funcionário da escola.
Pois bem, visualizamos uma justaposição escola/violência, e acabamos por encarar um sistema educacional que, como outras instituições, devem assegurar a lógica da ordem institucional. No entanto, o que ocorre, muitas vezes, é a falta de momentos para se pensar sobre as práticas de violência, sejam elas exercidas na relação cliente/instituição ou instituição/cliente. Quando ocorre através da primeira relação, o agente do ato violento é tido sob a ótica de um sujeito institucional, e nas palavras de Aquino (1998), um sujeito que é regionalizado no mundo, concebendo ideias de “desestruturação da personalidade” ou “déficit em alguma fase do desenvolvimento”. No segundo tipo de relação, por a escola estar pautada em relações hierárquicas, por um lado há a necessidade da autoridade para manter a ordem institucional, por outro se configura como um ato de violência, pois se usa do poder. Por trás disso perpassa a ideologia da docilização dos corpos.  
Caro leitor, a nossa reflexão aqui está concentrada justamente nesta mútua forma de apresentação da violência dentro desse contexto. Em alguns casos a violência é praticada e sofrida pelo próprio sistema de ensino (como refletido acima). Frente a essa demanda, precisamos considerar a realidade na qual a escola está inserida para podermos, então, construir propostas pedagógicas que visem ações para reestruturar relações interpessoais/institucionais, por meio da tomada de consciência.
Apesar de se revelar como um problema complexo, pensamos que a violência escolar deva ser enfrentada pelos educadores, gestores, psicólogos e demais profissionais, de forma dialógica, pautada na mediação e problematização do conflito, ao invés de ser manejada em torno “culpabilização”, resultando, na maioria das vezes, com a expulsão e exclusão do aluno problema do contexto escolar.
Estar aberto ao diálogo e a promoção da reflexão de tais ações, é uma postura que vai além do dever profissional, mas diz respeito também a um compromisso com a formação de um ser humano que pensa e avalia suas próprias ações. Uma construção que possibilite aos alunos visualizarem os conflitos sob outra perspectiva que não seja por meio de socos, xingamentos ou palavrões e também reavaliar esse imaginário de um sistema que usa (nas entrelinhas) de atos violentos para manter a ordem. De acordo com a Revista Nova Escola (edição junho/julho 2015), “afirmar que a violência tem solução não significa dizer que o caminho é simples, muito menos rápido” (pág. 21).
Portanto, para além do debate em torno deste fenômeno, há uma relação que perpassa ao ideário do espaço escolar, assim como ao ideário da violência que se configura dentro do mesmo. Devemos, pois, voltarmo-nos para este fenômeno na tentativa de desvelá-lo e trazer o foco da nossa análise para os diversos fatores que retroalimentam as práticas violentas dentro do contexto escolar.


Dicas de leitura:
Aquino, J. G. (1998). A violência escolar e a crise da autoridade docente. Cad. CEDES [online], pp. 07-19.
Ferreira, A. R. Para escrever outra história. Revista Nova Escola, edição Junho/Julho, 2015.
Gonçalves, L. A. O.  &  Sposito, M. P. (2002).Iniciativas públicas de redução da violência escolar no Brasil. Cad. Pesqui. [online]., pp. 101-138.


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