Por Geane Ribeiro, Roseana Pacheco e Sonha Aquino
Plantão psicológico? Como compreender os sentidos e
significados que integram essa modalidade de atendimento psicológico,
abstraindo a unicidade de sua constituição?
Na tentativa desse entendimento, recorremos a
figuratividade que envolvem o próprio termo “plantão psicológico”. Nesse
sentido, Wood (1999) compreende que o plantão psicológico aproxima-se
etimologicamente da palavra latina “planton” que significa plantar.
Trazendo um outro símbolo, Nunes e Morato (2013) nos
apresentam o plantão psicológico a partir da metáfora da “árvore grande”. Mas
de que forma efetivamente figuras como a da“árvore grande” ou ainda da origem
etimológica do “plantar” podem nos ajudar a compreender a essência e
especificidades do plantão psicológico?
Olhando para a estruturação do ato de plantar, podemos
trazer que ele envolve etapas como preparar a terra, semear, cuidar, colher...
Enquanto que a “árvore grande”... ah! Não é por acaso que a árvore se constitui
o símbolo do plantão psicológico, a árvore acolhe o viajante! A árvore está lá,
disponível a todos os viajantes que passam pelo caminho. Há várias durante o
percurso, cada uma com características peculiares ainda que sejam da mesma espécie.
Assim, cada encontro viajante - árvore se faz único. A árvore é o lugar de
repouso para o viajante, é embaixo dela que ele pode descansar, analisar os
recursos que tem disponível para a viagem e refletir o seu caminho.
Tais símbolos, “plantar” e “árvore grande”, intersetam
figuras e significantes centrais desta modalidade de atendimento psicológico. E
a partir do des- construção desses símbolos é possível o desvelamento dos seus
sentidos, e assim compreensão da sua essência. Grande árvore, disponibilidade,
acolhimento, diversidade, encontro, reflexão.. Plantar, preparação, cuidado,
crescimento... Plantão psicológico...
Trazendo um pouco de sua história, o serviço de plantão
psicológico surgiu no Brasil nos anos 60, no Instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo (Ipusp), através do Serviço de Aconselhamento Psicológico (SAP)
inspirado nas experiências das walk-in clinics, oriundas dos Estados Unidos,
com o objetivo de prestar atendimento psicológico imediato à comunidade. O
serviço oferecido tinha o objetivo de poder oferecer uma escuta atenciosa, não
diretiva, centrada no cliente. Tem como base conceitual a Abordagem Centrada na
Pessoa, de Carl Rogers, enfatizando portanto, as qualidades da relação
(aceitação incondicional, empatia e congruência) como fator mobilizador do
crescimento (tendência atualizante).
Em um período crítico em que se fazia necessária uma
urgente reconstrução da sociedade marcada pelas mazelas de uma pós –guerra,
surgiu o plantão psicológico, com a proposta de oferecer práticas psicológicas
levando em conta os sofrimentos deixados pela guerra, de uma população
fragilizada, principalmente por que a cultura norte americana exigia dos homens
adaptação, produção com eficiência , a fim de alavancar o capitalismo e seus
avanços. Diante deste cenário, o aconselhamento psicológico vem acolher as
demandas de emergência psicológicas.
Segundo Morato (2006), o
aconselhamento psicológico é “um conjunto de práticas psicológicas
profissionais para acolher o sofrimento do indivíduo e resgatar o significado
de sua história como existência, orientadas por diferentes visões de homem” (p.
40). O atendimento de plantão psicológico surgiu da necessidade de atingir e
beneficiar uma parte da população que estava desassistida do serviço de saúde e
necessitava de auxílio psicológico. Surge como um espaço de
acolhimento e referência no momento de sua necessidade e assim o plantão
psicológico vem significar (Mahfoud apud Morato, 1999).
Segundo Mahfoud (1999), o plantão psicológico se
caracteriza pela junção de três fatores: um serviço sistematizado, um
profissional disponível e um cliente necessitado de acolhimento que o utiliza
como ponto de referência. A plasticidade do formato permite que a escuta seja
oferecida nos mais diferentes contextos, pois não se prende ao "setting
tradicional". Cada local sistematiza o serviço, como é o que ocorre no
Centro de Estudos e Práticas Psicológicas (CEPPSI) da Universidade Federal do
Vale do São Francisco.
No CEPPSI, o serviço acontece uma
vez por semana, às quintas-feiras e as inscrições para atendimento acontece até
às 17h, por demanda espontânea, ou seja, qualquer pessoa da sociedade que
esteja necessitando emergencialmente de um apoio psicológico pode buscar o
serviço.
Onde o plantão psicológico se faz
presente tem sido uma importante troca de experiências entre
o profissional e o cliente. Vale ressaltar que nem sempre será
possível atender a demanda de quem procura o serviço, porém compete ao
psicólogo proporcionar uma compreensão da pessoa a respeito de si
mesmo e o que o levou a procurar pelo plantão, levando a entender que o usuário
tem um papel ativo no processo.
Para o profissional será sempre algo desafiador e
novo, Mahfoud (1987) diz que “(do ponto de vista) do profissional, esse sistema
pede uma disponibilidade para se defrontar com o não planejado e com a
possibilidade (nem um pouco remota) de que o encontro com o cliente seja único”
(p. 75).
Referências
Bibliográficas:
Mahfoud, M. (1999). A
vivência de um desafio: plantão psicológico. Em: Mahfoud, M. Plantão
psicológico: Novos horizontes. São Paulo: Companhia Ilimitada. pp. 17- 29.
Morato, H.T.P.
(2006). Pedido, queixa e demanda no Plantão Psicológico: querer, poder ou
precisar? Em: VI Simpósio Nacional de Práticas Psicológicas em
Instituição – Psicologia e Políticas Públicas. Vitória – ES: UFES.
v.1. pp. 38-43.
____. (1999). Serviço
de Aconselhamento Psicológico do IPUSP: aprendizagem significativa em ação. Em:
MORATO, H. T. P. (Org.). Aconselhamento psicológico centrado na pessoa:
novos desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo. pp. 27-43.
Nunes, A.; Morato, H.
T. P. (2013). Plantão psicológico no Departamento Jurídico do "XI de
Agosto": relato de plantonistas. In: Barreto, C. L. B. T.; Morato, H. T.
P.; Caldas, M. T. (org.) Prática psicológica na perspectiva fenomenológica. Curitiba: Juruá, 2013, p. 259-281.
Wood. J. K. (1999). Prefácio. In.: Mahfoud, M et
al. Plantão Psicológico: Novos horizontes. São Paulo: Companhia Ilimitada.
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