O objetivo do presente texto é
refletir sobre a noção de cuidado partindo de uma perspectiva Heideggeriana em
que discute o cuidado como uma expressão ontológica, ou seja, como algo que
pertence ao ser existencial.
O cuidado faz parte de nossa
existência, o que indica que somos cuidado e o cuidado nos pertence. Esta visão dialética propõe uma compreensão
do cuidado proposto pela fenomenologia em que tudo que é humano deve ser compreendido
na relação deste com o mundo (ser-no-mundo) e deste com os outros
(ser-com-outro). Somos cuidados e somos cuidadores em todas as dimensões de
nossa existência.
Na visão de Heidegger o cuidado
faz parte das condições humanas de amar. Não aprendemos a amar, simplesmente
amamos. Não aprendemos a cuidar, simplesmente cuidamos. No entanto, é
importante considerar que vivemos nossas experiências e a partir delas temos
exemplos de manifestações destas e tantas outras ações e quando não conseguimos
ter um processo reflexivo autêntico, muitas vezes somos conduzidos a apenas
reproduzir os exemplos vivenciados.
Voltamos ao cuidar. Fernandes
(2011, p. 15) afirma ”a essência da relação, que se instaura no cuidado do
ser-com-outros, é aproximar-se-do-outro, deixar-se interessar por ele, se
interpelado por ele e interpela-lo, ser solicitado e solicitar, responder e
corresponder”.
Não somos sozinhos. Ninguém vive
sozinho, ninguém nasce sozinho, ninguém se desenvolve sozinho, logo a relação
do cuidado se instaura em toda a existência humana.
Quando o cuidado é discutido nos
textos de Heidegger é notável a ampla dimensão desta perspectiva. O cuidar está
relacionado aos outros, mas é fundamental compreender que o mesmo se revela
também e primordialmente na relação consigo mesmo.
Pensemos... o bebê ao nascer não tem
condições alguma de se cuidar, mas tem o instinto que garante seu cuidado, pois
o mesmo, instintivamente tem a condição existencial de buscar o cuidado,
quando, por exemplo, chora por necessidade de cuidado. Isto é natural, isto é
humano. Isto é a beleza da vida!
Ao se pensar no cuidado ao outro,
Heidegger trabalha com a ideia de solicitude como uma perspectiva deste
cuidado, indicando a possibilidade de ver o outro como ele é, por meio de sua
própria visão sobre si mesmo, se interessando pelo outro, sendo interpelado por
ele e respondendo e correspondendo à relação estabelecida com ele.
E assim, podemos agora refletir
sobre o cuidado na relação terapêutica. Ao se pensar na relação terapêutica
proposta pela fenomenologia já partimos de um primeiro ponto que se manifesta
como de grande cuidado ao outro, pois, antes de pensar em teorias, conceitos e
qualquer tipo de perspectiva pré-definida, é indicado que o terapeuta se abra a
todas as possibilidades que a experiência com o outro lhe oferece. O estar junto,
permitindo ao outro ser ele mesmo, sem crivos e julgamentos é a primeira e mais
importante manifestação de cuidado que o terapeuta oferece ao seu interlocutor.
Porém, é importante considerar que
só estamos aptos a cuidar inteiramente do outro, quando cuidamos de nós mesmos,
cuidando de nosso bem-estar físico e psíquico. Cuidando de nossos
pré-conceitos, cuidando de nossa história, só assim estaremos realmente abertos
ao outro.
Concluindo esta ideia deixamos que
o exercício da Psicologia seja um constante exercício de autocuidado para se
abrir ao outro e poder cuida-lo.
Gostou do tema? Leia mais sobre
em:
HEIDEGGER, M. Todos nós ninguém. Ed. Moraes. 1981.
PEIXOTO, A.J.; HOLANDA, A.F.
Fenomenologia do cuidado e do cuidar: perspectivas multidisciplinares. Juruá.
2011.
SANTOS, D. G.; SÁ, R.N. A
Existência como “CUIDADO”: elaborações fenomenóligas sobre clínica
psicoterapêutica. ANAIS DO CONGRESSO DE FENOMENOLOGIA DA REGIÃO CENTRO OESTE IV
CONGRESSO DE FENOMENOLOGIA DA REGIÃO CENTRO OESTE Fenomenologia, Técnica e
Ciências 19 – 21 de setembro de 2011.
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