Texto escrito por Dra. Erika Höfling Epiphanio
A
Psicologia do Esporte entrou na minha vida em 1994 quando estava iniciando meu
mestrado. Naquele momento surgia uma curiosidade sobre esta possibilidade de
atuação da Psicologia em conjunto com um desejo de compreender o universo
psíquico dos atletas.
Esta
curiosidade levou-me a buscar literaturas sobre a área e na época muito pouco
foi encontrado. No entanto, na pouca bibliografia existente já pude perceber
que esta era uma área que ia além de se compreender os aspectos psicológicos do
esporte de alto rendimento, pois a Psicologia do Esporte preocupa-se também com
as diversas dimensões do esporte, como, por exemplo, o esporte como
possibilidade de educação e saúde.
Neste meu
primeiro contato com a Psicologia do Esporte me sentia muito sozinha, pois era
escasso o numero de profissionais que já atuavam na área e as bibliografias em
geral eram estrangeiras. Mesmo assim resolvi ir a luta e buscar conhecer esta
área que tanto me intrigava e começava a me apaixonar.
Em minhas
pesquisas me surpreendeu saber que a Psicologia do Esporte já tinha seus autores
nacionais desde a década de 50, quando o Brasil foi o primeiro país a integrar
um psicólogo em sua comissão técnica na Copa do mundo de 1958, o psicólogo João
Carvalhaes. No entanto, a surpresa foi também perceber que embora houvesse
transcorrido quase 40 anos, pouco havia se avançado em termos de conhecimento e
reconhecimento do papel do psicólogo no esporte.
Então
passei a estudar mais a fundo esta área de conhecimento para respaldar a minha
prática enquanto psicóloga do esporte que iniciou em 1996, mas pouco encontrei
sobre como fazer, ou como se dava as intervenções psicológicas no esporte, o que mobilizou a tema da minha pesquisa de
doutorado em que realizei uma discussão sobre intervenção psicológica com
atletas de voleibol.
Em 1999 fui
convidada a lecionar Psicologia do Esporte em um curso de Psicologia, em que
havia também a obrigatoriedade de se realizar estágio supervisionado nesta
área. Foi um sonho... que um dia acabou,
mantendo a disciplina teórica e a prática se extinguiu. Mas é importante
considerar que, ainda hoje, é um dos
pouco cursos de graduação em Psicologia que tem esta disciplina como
obrigatória.
A partir
dos anos 2000 pudemos ver um avanço considerável em livros e artigos nacionais
abordando a Psicologia do Esporte, além do reconhecimento do Conselho Federal
de Psicologia desta especialidade. Mas sabemos que muito ainda se tem a avançar
para que esta seja uma área reconhecida no meio esportivo, social e acadêmico.
Muito
temos a avançar para que tenhamos uma prática da Psicologia do Esporte mais
comprometida e ética.
O
interesse em se atuar na Psicologia do Esporte tem aumentado muito nos últimos
anos, principalmente pela grande evidência na mídia da importância do
psicológico na preparação psicológica dos atletas, mas a formação para isto e a
evidente importância em pensar nesta atuação no meio educacional e da saúde
ainda engatinha, mas com certeza avança.
Entre os dias 7 e 10 de junho deste ano tivemos um dos maiores avanços
neste sentido, quando a ANPEPP ( Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação
em Psicologia) reconhece a Psicologia do Esporte e cria o primeiro Grupo de
Trabalho (GT) de Psicologia do Esporte. Participam deste grupo pesquisadores,
professores, psicólogos e educadores físicos, membros das principais
Associações de Psicologia do Esporte brasileira, que de maneira conjunta se
disponibilizaram a construir rumos mais sólidos para esta importante área da
atuação da psicologia.
O 1º GT de Psicologia do esporte foi composto pelos seguintes profissionais:
Coordenador: Profº Drº Cristiano Roque Antunes Barreira – PPGP/USP
Vice-coordenador: Profº Drº Erick Conde – PPGP/UFPE
Ms. Adriana Amaral do Espírito Santo - UERJ
Profª Drª Adriana Bernardes Pereira – PPGP/PUC-GO
Profº Drº Alberto Filgueiras – PPGP/UERJ
Profª Drª Cristianne Carvalho – PPGP/UFMA
Ms. Daniele Seda – UERJ
Profª Draª Erika Höfling Epiphanio – UNIVASF
Profº Drº Franco Noce – PPGEF/UFMG
Profª Drª Gislane Melo – PPG/UCB
Profª Drª Juliana Camilo – PUC-SP
Profª Drª Katia Rubio – PPGEF/USP
Profª Drª Luciana Ângelo – Sedes Sapientiae
Profº Drº Maurício Pinto Marques – UFRGS
Profº Rodrigo Pieri - UNISUAM
Ms. Thabata Castelo Branco Telles – USP
Acredito que este foi um grande passo para se construir uma Psicologia do Esporte mais evidente, mais eficiente, mais comprometida com a condição humana e menos preocupada com a mercantilização do esporte. A Psicologia do Esporte pode e, a meu ver, deve se comprometer com os aspectos humanos relacionados a toda e qualquer prática do esporte. Sou extremamente grata por fazer parte deste 1º GT da Psicologia do Esporte da ANPEPP e poder continuar minha luta em prol da humanização do esporte.
Para conhecer um pouco mais:
EPIPHANIO, E.H. Psicologia do
esporte e desenvolvimento humano: um estudo exploratório junto a uma equipe
feminina de vôlei. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, Instituto de
Psicologia. 2001.
RUBIO, K. (org) Psicologia do Esporte Aplicada. Casa do
Psicólogo. 2003.
DOBRANSKY, I. A; MACHADO, A.A.
Delineamentos da Psicologia do Esporte: evolução e aplicação. Tecnograf 2000.
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