Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde
Escrito por Emanoela
S. Lima e Thâmara Agnes S. Santos
Pensar na experiência do V
VER-SUS é deixar passar pelo coração todas as lembranças que constituíram esse
espaço de formação profissional, mas sem sombra de dúvidas de formação pessoal,
o que nos implicou, a partir de então, repensarmos nossa postura cidadã e,
portanto,política.
“A cabeça pensa onde os
pés pisam”
Essa frase de Frei Betto
marcou a nossa vivência. Como podemos pensar a realidade se estamos apenas
enclausurados na grade curricular, repetindo teorias sem questionar se elas são
coerentes para as demandas reais do povo e apenas preocupados em conseguir boas
notas nas provas?
Nossa formação profissional
descontextualizada não nos permite pisar na realidade do sertão e do Sistema
Único de Saúde (SUS). Sequer nos possibilita nos identificar como profissionais
e futuros trabalhadores de Saúde. O que nos faz questionar: Psicologia pra que
e pra quem?
Foram oito dias intensos,
partimos da realidade que vivemos no sertão para podermos dialogar e a agir
sobre o mesmo, visando uma transformação coletiva da sociedade. Experienciar a
relação que existe entre ambiente e saúde no sertão foi aprender a conviver,
ainda mais, com o Semiárido. As lembranças mais remotas da relação que temos
com a terra nos proporcionaram identificar que, antes de qualquer coisa, a
nossa construção, enquanto ser/cidadã, esteve relacionada com a terra, suas características,
atividades e ritos, bem como a vida que aprendemos a tecer por meio da convivência
com esse espaço.
“Gotas de orvalho numa folha seca de
palma
É tão lindo o sertão com água”
Sabemos das transições do
Semiárido, das suas riquezas e que não adianta combater a natureza, precisamos
aprender a conviver com ela, suas potencialidades e limitações. Porém, ainda
incorremos nas representações sociais do Semiárido pobre, sem perceber que na
verdade somos empobrecidos por um sistema de capital que explora nossas
riquezas e nos nega o acesso a ela.
Visitamos a
comunidade de Brejo de Dentro (Sento Sé-BA) que é um exemplo vivo de
inacessibilidade e violação dos direitos humanos. Aprender com militantes do
Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) foi confrontar o discurso com a
prática, seja acadêmica ou pessoal (não que estejam desvinculadas uma da
outra), notando quão pouco fazemos para fortalecer a luta desse e de outros
movimentos sociais. Foi um espaço de sensibilização, ao percebermos que
recursos naturais estão sendo vendidos e negados:
“água e energia, não são mercadorias”.
Antes da vivência nos indignávamos com as iniquidades sociais, porém não
tínhamos pretensão de somar a movimentos sociais, acreditávamos nas lutas
cotidianas. Nesse sentido, as visitas ao território foram espaços de repensar
as nossas práticas e a nossa implicação na organização popular, no intuito de,
enquanto profissionais em formação, perceber os marcadores sociais que
interferem na saúde das pessoas, não para nos tornarmos expert em dar
explicações aos fenômenos, mas para compreendermos a complexidade dos serviços
de saúde e como podemos a partir da não violação dos direitos, assegurar
bem-estar às pessoas, especialmente às do semiárido.
As plenárias e a experiência de conviver uma semana com pessoas que se
identificam umas nas outras, que se indignam, que lutam juntas, que cuidam umas
das outras e se respeitam foi compreender que só por meio da luta coletiva e
popular podemos resignificar as estruturas sociais. E por isso, ficamos com a definição
de saúde que melhor nos representa:
“saúde é a capacidade de lutar contra aquilo que nos oprime”.
O V VER-SUS se
configurou como um ambiente que fez reascender a mística e a militância. Reafirmamos
de que lado nós estamos, do lado do trabalhador, defendendo o SUS, a educação popular
libertadora, a luta feminista, o respeito à diversidade, o acesso a terra, água
e energia, a equidade de direitos, só que agora organizadas em alguns
movimentos sociais (Marcha Mundial das Mulheres, Fórum Acadêmico de Saúde, DCE-
Resistência) que estão na Univasf.
Comentários
Postar um comentário