O texto publicado hoje é um relato de uma professora do ensino médio, que educa pessoas por meio do ensino da filosofia. Uma experiência que nos mostra que ainda é possível acreditar na educação, uma vez que educação é proporcionada por pessoas e não por instrumentos.
Por Clara Sousa
Sou professora
de filosofia na rede estadual da Bahia e em uma de minhas aulas no último ano
do ensino médio, lancei o desafio aos estudantes de refletirem: O que é
existir? E para quê existir? Como era de se esperar, os estudantes se
entreolharam e logo me disseram: “Professora essa pergunta é muito complicada
de se responder!” E eu com a expressão de um escultor que quer tirar algo de
dentro de uma pedra, logo argumentei: “Sim, sei que é muito difícil. Mas como
passar uma vida inteira sem se perguntar o porquê de existir?”
E
silenciosamente cada um tomou o seu caderno e foram desenvolvendo as ideias de
modo a pararem segundos do cotidiano escolar, que tantas vezes impede a
criatividade e a reflexão, para exercitar a sua compreensão de existência.
Depois de alguns minutos o silêncio começou a ser quebrado com as partilhas
espontâneas das ideias e veio à tona os verdadeiros sentidos guardados e
embarreirados pelo medo de se expressarem.
Posso
compartilhar algumas das ideias:
“Será que existir é apenas viver?
Ou será que nós temos que viver para existir? Temos que entender que tudo tem
um motivo. Vivemos para amar o outro, pois precisamos de amor sempre. Ser feliz
e fazer os outros felizes!” (Estudante D. A. B.)
“Todos temos um propósito na
vida. (...) A maioria das pessoas não entendem o que é viver, vivem sem nenhuma
meta, sem deixar a sua marca, deixar saudades, fazer amigos, errar, acertar.
Existir é conquistar a liberdade e receber os créditos pelos acertos e pagar
pelos erros ao longo da vida!” (Estudante L.A.S.)
“Existir é ter um objetivo para
viver, amar e ser feliz. Existimos para viver uma história, conhecer uma pessoa
e formar uma família, vivendo cada momento como se fosse o último.” (Estudante
N.G.R)
“Existimos por vontade de Deus,
para ajudar o próximo, respeitando-o, sendo bom a si mesmo e ao grande mundo.”
(Estudante F.A.P.N.)
“Existir é viver cada dia como se
não tivesse amanhã, aproveitar cada instante como se fosse o último.” (Estudante
J.P.S.N)
“Eu existo porque fui escolhida a
estar e habitar a terra. Muito bom estar aqui, porque a vida é uma
aprendizagem, mas precisamos saber dar valor a tudo o que somos e as pessoas ao
nosso redor.” (Estudante A.C.)
“Existir é viver, é ser
reconhecido, mostrar verdadeiramente quem somos. Existir não é simplesmente
nascer é fazer valer essa vida deixando o seu sinal no mundo.” (Estudante L. S.
F)
Tal atividade
foi lançada para fundamentar a partir de seus pensamentos a discussão acerca do
Existencialismo, que pode-se perceber a existência humana como ponto de
partida. Quando se fala em existir, há uma implicação entre as relações consigo
mesmo, com os outros, com a cultura e com a natureza. Percebe-se que nas frases
extraídas dos textos dos estudantes há uma dinâmica entre esses elementos em
que dão significação as suas existências, dando-lhes sentido. Com tal atividade
pôde-se visualizar um início de abertura de sentido, para a existência em
construção.
Há
em algumas frases uma relação com a transcendência, trazendo até o nome de Deus
para a circularidade das ideias. Assim, ao acionar a transcendência cada um
conseguiu provavelmente, acessar a sua verdade pessoal, em busca de
autoconhecimento que possibilitem relações mais saudáveis, beneficiando a sua
construção pessoal.
Como já dizia
Antoine de Saint-Exupèry “aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos
deixam sós. Deixam um pouco de si e levam um pouco de nós”. Dessa forma, damos
ao outro o que temos e esse pouco vai constituindo o ser de cada um. A escola e os diversos espaços juvenis devem
possibilitar mais e mais o exercício da reflexão, da escuta de si e do outro,
levando aos jovens a mobilização do ser de busca, que afeta e é afetado por sua
realidade. Cada um de nós devemos permanentemente experimentar, ampliar as
possibilidades e agir, construindo mais a nossa existência na partilha de vida
consigo e com ou outro.
Indicações de leituras:
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O
pequeno príncipe. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2009.
ROGERS, Carl R. Tornar-se
pessoa. 5. ed São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Cara (Clara) amiga e colega de profissão e de disciplina. Saudações!
ResponderExcluirLendo textos como esse é que ainda sinto que educar é o melhor caminho para uma vida de paz e de conhecimento de si mesmo.
Admiro-te! Parabéns pelo texto! Parabéns pela sua maneira de discutir filosofia. Livre, leve e sem amarras!!!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNossa adorei a reflexão, e a contribuição para educação de texto como esses nos mostra a importância de acreditar em aulas mais significativas onde mexe com a liberdade de expressão dos alunos. Parabéns Clara!
ResponderExcluirNossa adorei a reflexão, e a contribuição para educação de texto como esses nos mostra a importância de acreditar em aulas mais significativas onde mexe com a liberdade de expressão dos alunos. Parabéns Clara!
ResponderExcluirNossa adorei a reflexão e a contribuição para educação de texto como esses nos mostra a importância de acreditar em aulas mais significativas onde mexe a liberdade de expressão dos alunos. Parabéns!
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