Cine FENO- NEPFEE "“O psicólogo: o doutor esta fora”

Boas vindas amigos e seguidores do NEPFEE!
Nós do NEPFEE temos o prazer de apresentar a vocês uma nova categoria de postagem no nosso blog: O Cine FENO-NEPFEE, espaço para compartilhar reflexões fenomenológicas sobre filmes, séries, animações e documentários.
Para inaugurar nosso CineFENO trazemos o texto:

“O psicólogo: o doutor esta fora”. Uma reflexão ética.
De Bruna Rios, Emily Ribeiro, Olivanildo Frazão e Thâmara Agnes.

“Se o terapeuta, ele próprio, estiver incongruente, preso a rigidez das suas próprias defesas, como conseguirá promover a fluidez do cliente o estar aberto a sua diversidade e complexidade? Se tiver medo da dor como será ele capaz de ouvir e de ajudar o cliente a enfrentar sua própria dor?” (Borja-Santos, 2004).

O filme “O Psicólogo: o doutor está fora” é uma produção de 2009, que narra à história do psicólogo Henry Carter e de seus clientes famosos. Ele é autor de livros best-sellers, incluindo um sobre felicidade. Porém, após a morte de sua esposa Henry mergulha em uma crise existencial, se automedica, usa maconha e bebe muito. A análise desse filme nos permite problematizar sobre as habilidades e competências do profissional em psicologia e suas implicações no exercício ético da clinica.
Em meio ao processo de luto, abuso de álcool e drogas, o terapeuta Henry Carter tem consciência de que não está apto para atender seus clientes, porém, continua os atendimentos. A partir dessa informação, já podemos inferir que ele não estava em condições de promover cuidado e saúde mental, pois não estava cuidando de si, de modo que no momento em que realizava as sessões não tinha a disponibilidade de ouvir, avaliar e decidir qual a conduta apropriada para lidar com as demandas dos clientes.
Entendemos atitude clínica como a possibilidade/habilidade de colocar-se no papel profissional, em um delimitado enquadramento, mantendo sempre a empatia com os clientes/pacientes. Essa habilidade foi comprometida a partir do momento em que Henry começou a realizar atendimentos sob efeito de substâncias psicoativas.
A existência do ato clínico é constatada quando o respeito com o cliente/paciente é mantido, isso propicia o impedimento de posturas antiéticas, do psicoterapeuta. Para a formação da atitude clínica são necessários três fatores: psicoterapia individual, estudo e atendimentos supervisionados. Henry não estava em processo pessoal de psicoterapia e sua supervisão era feita por seu pai, o que por si só, enviesa o processo. Um fato que agravou a situação foi que o seu pai encaminhou para ele uma cliente cuja demanda era o suicídio da mãe – questão que também era demanda do psicoterapeuta. Neste caso, por Henry não estar em processo individual a sua postura era de transgressão ética em diversas cenas (ir ao cinema e ao consultório médico com a cliente, por exemplo), isso nos aponta que a postura de empatia que precisa ser mantida na relação entre o profissional e cliente não foi respeitada. É sabido que em uma relação mediada pela empatia, o profissional se coloca no lugar do cliente, se implica nos conflitos para acolher o sofrimento trazido, buscar possíveis soluções, mas não se confunde com ele ou com suas demandas.
O psicólogo tem o dever de manter as informações acerca dos seus clientes em sigilo, porém, durante o filme o prontuário de uma cliente – que apresentava a mesma demanda de Henry - foi roubado por terceiros. O ápice da problemática acontece quando esses dados tornam-se enredo de um roteiro de filme e outros clientes se envolvem nesta trama. Por fim Henry compactua com o lançamento do filme, que tinha como título o nome verdadeiro da sua cliente e informações obtidas por ele durante as sessões terapêuticas.
Para Forghieri (2007) o processo terapêutico na clínica em fenomenologia se estabelece a partir da vivência do aqui-agora, e também pré-reflexiva entre terapeuta e cliente, acompanhado da reflexão de ambos sobre o encontro. O terapeuta é um parceiro existencial e tem como papel facilitar a experiência imediata do cliente para que este tome consciência de suas potencialidades, responsabilize-se por suas escolhas e produza novos sentidos a partir dos conflitos existenciais que vivencie. Tomado como base esse enquadramento, Henry ao se misturar com os clientes, ao não saber diferenciar suas demandas da dos clientes, demonstrou-se inautêntico e indisponível para praticar a clinica em psicologia.
Portanto, evidencia-se uma postura antiética do psicólogo e o comprometimento da atitude clínica e da sua conduta como profissional. Além da afirmação de que o conhecimento teórico deve embasar a realização do processo clínico, pois, há uma série de competências, habilidades e deveres a serem respeitados e praticados. Por fim, o filme nos mostra a grande importância da congruência na prática profissional. 

Segue o link do trailler do filme: assistam, curtam e compartilhem suas reflexões conosco!
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-137484/trailer-19540279/

Sugestão de leitura:
Borja-Santos, C. (2004). Abordagem centrada na pessoa-relação terapêutica e processo de mudança. Psilogos, 1(2), 18-23.

Gomes, William Barbosa, & Castro, Thiago Gomes de. (2010). Clínica fenomenológica: do método de pesquisa para a prática psicoterapêutica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(spe), 81-93. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500007

Comentários

  1. Passei esse filme na disciplina Fundamentos da Psicologia Clínica no sétimo período da UNIVASF. Parabéns pela postagem, gente!

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