HUMANIZAÇÃO DO HUMANO: compartilhamento de algumas ideias de Leonardo Boff.



Por Clara Maria M. de Sousa


No dia 18 de abril de 2017, o teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff, esteve proferindo dois momentos no Seminário de Educação Universitária no Multieventos da UNIVASF em Juazeiro – BA. Enquanto um autor que pensa a vida e a constituição de homem numa perspectiva humanista, pensamos em compartilhar algumas ideias trazidas nesses momentos por Boff.



Boff inicia a discussão alertando para o momento atual, em que vivemos um tempo único na história da humanidade, de reversão, sendo necessário, nos preocuparmos com a ecologia integral, ou seja, uma reflexão dos problemas interconectados de ordem econômica, política, cultural e espiritual. Nesse sentido, é desafiante pensar e repensar essas questões, em busca de garantir um futuro para a vida e a nossa casa, que chamamos de terra. 

Para esse desafio, devemos começar a perceber a consciência coletiva, já que não há diferença entre terra e humanidade, ambas, são uma coisa só. A humanidade é parte da terra e dessa maneira somos terra. Sendo assim, todos os saberes, os valores e as tradições podem nos despertar para essa consciência da humanidade. 



E aí vai o questionamento: Como chegar a criar uma consciência coletiva?

Atualmente o homem muitas vezes se sente desenraizado e desconectado da terra. O interesse, a visão individualista, a lucratividade vai sufocando a sensibilidade de ser homem. O autor ainda expõe que o grande meteoro da humanidade é o homem, podendo ser visto como o “Grande Satã” ou o “Grande CoCriador”. “Grande Satã” por destruir a vida em aspectos visíveis einvisíveis. E “Grande CoCriador” por poder respeitar o universo como parte de si mesmo.Então, se não resgatarmos a sensibilidade, dificilmente vamos amar e ter compaixão da natureza e da humanidade. 

Dessa forma, a universidade por vir de uma raiz humanística pode cada vez mais pensar em formar humanos e não máquinas de destruição. Importante lembrar que as intervenções técnicas são necessárias para atender as demandas humanas. Mas deve-se pensar em uma nova produção, de modo a agredir menos e a se responsabilizar pelo bem comum, em prol da sobrevivência da humanidade. É preciso revisitar o conhecimento popular. “Pois ignorante é aquele que pensa que o povo não sabe”. Mas vinculando no espírito de cordialidade com todos os seres e saberes.

Boff ainda traz que a vida é um processo de evolução e para tanto é necessário refletir em torno de alguns saberes necessários para nossa humanização. 

·         Primeiro: devemos aprender a viver, preservando a integridade física e psíquica, reconhecendo o outro e suas capacidades, permitindo que a vida se expresse nos seres e nas coisas.

·         Segundo:devemos ser mais humanos, em mil formas, até mesmo renunciar-se em função do outro. O outro faz-nos ver nós mesmos. Assim, é preciso acolher o outro, a partir de atitudes de respeito por sua singularidade e disposição de abertura para bem conviver.

·         Terceiro: devemos aprender a cuidar, sendo o cuidado a essência profunda do ser humano. Necessitamos compreender que se não cuidamos haverá definitivamente uma catástrofe. Tudo o que cuidamos, amamos. Todos precisamos ser cuidados, acolhidos, valorizados e amados.

·         Quarto: devemos aprender a desenvolver uma visão de espiritualidade do mundo. Nós conhecemos o mundo do corpo, mas devemos aprofundar a psique, equilibrar os nossos “anjos e demônios” para viver a experiência do mundo da espiritualidade, elevando o amor, a compaixão e o cuidado. 

·         Quinto: devemos recuperar o espírito solidário, ganhar de volta o rosto humano, intensificando atitudes de amar, servir e buscar um mundo de paz.

A universidade pode ser esse espaço de humanização do humano, enriquecendo a sensibilidade na convivência com as diferenças, respeitando a tudo o que gera vida, acolhendo com generosidade as culturas e cuidando de uns para com os outros.


“O ser humano, animal racional, busca a felicidade, o seu bem. Para consegui-lo precisa equacionar um conflito de base entre a paixão (reino de Pathos e do Eros) e a razão (reino do Logos e do Ethos)”. (Boff, 2013).



Referências: 

BOFF, Leonardo. Direitos do coração: como reverdecer o deserto. São Paulo: Paulus, 2015.
_______________. O cuidado necessário: na vida, na saúde, na educação, na ética e na espiritualidade. Petrópolis, RJ: Vozes. 2013.
_______________. Saber cuidar: ética do humano compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes; 1999.

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