Por Erika Hofling Epiphanio
Como construímos nossas experiências? Ao nascer, nos é dado a
capacidade de viver, logo a capacidade de experienciar também nos é dada?
Ao ler o texto de BONDIA (2001) muitas reflexões surgem. E fico aqui pensando sobre a capacidade
humana de viver experiências. E eu acredito que esta é uma capacidade natural,
ontológica, existencial, que possuímos por existirmos. No entanto, há diversos
fatores inibitórios para esta tão nobre capacidade de existir. E, esta
constatação chega a me provocar desesperança, sentimento tão pouco produtivo...
tão pouco pontente...
Há uma construção social em nossos tempos que mobilizam o ser
humano a uma construção existencial pouco flexível, pouco autônoma. Em que a
partir da Educação o Homem é levado a construir um ideal de existência para ser
aceito em seu meio social e familiar. Para ser considerado um Homem bom, logo
produtivo para, então continuar
alimentando o sistema em que vivemos. E, neste modo de existir as informações
se tornam predominantes e mais valorizadas do que as vivências e as
experiências.
As verdadeiras experiências se dão no vazio, no silêncio e
não na informação, mas na construção da formação que proporciona a transformação.
Diz Bondía (2001, p. 23) “Ao sujeito do estímulo (referindo-se ao excesso de
informações e alta velocidade de processamento destas), da vivência pontual,
tudo o atravessa, tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca, mas nada lhe
acontece”. Pois, segundo o autor a experiência é “o que nos passa, o que nos
acontece, o que nos toca” (p. 21)
Hoje o acesso a informação é tão fácil, rápido, “eficiente”,
que o silêncio se faz incômodo. O vazio
se torna assustador e as possibilidades de experiências são reduzidas a uma
bagagem completa de títulos, informações, conhecimentos, bons materiais, mas
vazia de existência... em que o Ser não se encontra, não se reconhece.
Martini (2005) aponta Heidegger como um mestre, como um
educador no sentido do provocar a reflexão da experiência ao outro, pois o
filósofo alemão, que teve enorme contribuição para o pensamento existencialista
acreditou no potencial humano como ser de cuidado em que a busca do sentido do
ser da sua existência acontece ao se deixar atravessar pela experiência.
Martini (2005, p. 11) diz “Heidegger adverte que somente quando esquecemos
profundamente tudo o que sabemos, até o presente, como essencial do pensar, é
que podemos aprender a pensar”.
A reflexão que fica é que precisamos criar espaços para sentir,
vibrar, existir sem pré-definições, julgamentos, pré-conceitos, apenas para
sermos nós, eu, e mais nada! Estes espaços poderiam e deveriam ser criados em
nossos ambientes familiares, sociais como espaços de construção e transformação
social, então espaços a ser criado no âmbito da Educação e em todas as suas
dimensões.
Eu acredito no potencial de transformação da Educação. As
vezes sou chamada de ingênua, ou romântica. São apenas rótulos, que não me
importo, pois quero acreditar. Eu vivo com a possibilidade de transformar. Eu
desejo o vazio que me permite conhecer o desconhecido e com isto experienciar a
existência humana.
Bondia, J.L. Notas Sobre a experiência e o saber de
experiência. Revista Brasileira de Educação. 2002. http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf.
Martini, R.M.F. Paulo Freire e Heidegger: o essencial é
deixar aprender. Educação, Unisinos, v. 9, n.1, p. 5-14. 2005.
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