O texto que segue foi uma produção realizada por um aluno do 2º período de Psicologia da Univasf, ao ser estimulado a escrever um texto como atividade de avaliação da disciplina Psicologia Fenomenológica- existencial I !
Por Vitor M. Fagundes
“Nós não vemos o que vemos, nós
vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo, aqueles que tem beleza dentro
de si! – Ruben Alves
Certa vez, li que
tudo que sei e sou é uma mistura dos filmes que assisti, das músicas que ouvi e
dos livros que li... todos os conhecimentos que adquiro formam minha visão de
mundo que, inevitavelmente, servirá de filtro para selecionar o que cabe ou não
em minhas concepções, entretanto é difícil perceber que entre tantos, alguns
poucos sabem que recuando, outros avançam e que só esse Outro conhece, de fato,
sua dor.
Assim como eu, esse
sujeito carrega um mundo particular dentro de si e deixa suas marcas no mundo
onde ele se encontra. Seu toque me marcará, ainda que eu me distancie. Ora, se
o mundo não é totalmente exterior e o sujeito não é totalmente interior, vemos
uma simbiose amálgama de consciência e objeto onde alguém pode atribuir sentido
definido a algo indefinido para mim, o que, ainda assim, vem carregado de intencionalidade,
pois deixar indefinido também é uma definição.
Essa mesma carga de
intencionalidade e atribuição de sentido é o que caracteriza os fenômenos
psíquicos que dependem da atividade mental do sujeito e apontam para objetos
que eu intento que existam. Logo, não é apenas sobre eu escrever, mas, sim, em
como escrevo; não é apenas sobre andar, mas, sim, sobre o propósito que dou a
esses passos. Com isso, não ocupo-me com julgamentos ou justificativas, e, sim,
em refletir e compreender a direção dos meus atos.
Já que o “como”
sobrescreve o “porquê”, ele só vem a ser entendido do começo e não dos fins.
Começo me remete a raiz, que, por ora, me remete à essência que só é alcançada
se uma semente morrer a fim de germinar e gerar vida. Se suspendo os meus
juízos e dou ao outro a oportunidade de ele ser quem é, já fiz um retorno para
que ele dê seus passos (guardando minhas concepções assim dentro de parênteses)
e seus fenômenos venham à tona e eu o veja através de seus olhos a dizer: - Eu
sou o meu melhor intérprete.
“Cada indivíduo é não somente
normatizado, como normatiza a todos como modo de devolver a imposição que
recebe. Uma multidão de vigilantes, olheiros, juízes, julgando uns aos outros.
No fim, todos vítimas de si mesmo.” – Viviane Moré
No quarto fechado,
ninguém nota minhas palavras poupadas, minhas dores, muito menos as máscaras
que posso guardar em meu armário. E pensar que a grama do vizinho parece mais
verde, que a fila ao lado parece caminhar mais rápido e em meio a tantas
comparações, tudo parece. E de pareceres já bastam os sete bilhões e uns
quebrados espalhados por aí.
Não é sobre se
esconder, mas se encontrar e largar os inúmeros “se”. Riscando as aparências e
os verbos no subjuntivo, o que sobra é uma tendência de não mais sobrar, não
mais culpar os outros e responder por si só. Jogar fora o inservível, limpar os
quartos da mente e abrir a porta da sala para o novo.
Ao facilitador cabe facilitar
o romper das normatizações e ensinar-me a assenhorear-se do que é meu. Quando
ele, o facilitador, tira suas máscaras na terapia e mostra-se congruente com o
que diz, fica mais fácil para quem foi buscar ajuda fazer o mesmo. Diante de
atitudes de aceitação, consideração e uma compreensão de onde as águas jorram,
o curso do rio à sua foz torna-se menos difícil e, ainda que os obstáculos
surjam no trajeto, se o facilitador instruir-me adequadamente, serei capaz de
aprender a ser feliz ainda no leito sem precisar desaguar no mar, pois minha
alegria estará no percurso, não apenas no final. E no final, não há penas,
apenas recompensas, e lá, nada mais importa.
Com versos, converso
e uno versos no meu pequeno universo. Palavras impulsionam e elas estão aqui. Parar
para escutá-las me faz saber quem sou, e se sei quem sou, o que quero e de onde
venho, não precisarei mais fingir o que não sou, nem desejar ideais que não
sejam ideias minhas e, assim, o ciclo se revolve: quando alguém se viu pelos
meus olhos, aprendi a não mais enxergar meu mundo pelos olhos dos outros, o que
outrora me fez cego.
Mas, havendo eu sido
cego, agora vejo. E quem sabe tudo isso seja mais uma mera encenação?!
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