Família e Escola: um encontro necessário

Família e escola, como tem se dado este diálogo, quando pensamos em escolas públicas?
Fazer uma reflexão sobre este tema, se mostra bastante necessário quando pensamos no processo de Educação e da formação da pessoa.
Em uma investigação que realizei com duas estudantes da Iniciação Científica sobre os sofrimento presente na educação em escolas públicas municipais de Petrolina PE, nos deparamos com um fenômeno curioso, que nomeie do "Jogo da Batata Quente", pois ao escutar professores, estudantes, servidores e familiares, percebemos um fenômeno de culpabilização do outro, dificultando uma maior conscientização do papel que cada um possui na construção da pessoa,  na adquisição de conhecimento, logo no processo educacional. O professor justifica o sofrimento nos problemas sociais e familiares, os pais na dificuldade de diálogo com a escola, e assim por diante e com isto a batata passa de mão em mão e pouco se constrói coletivamente para minimizar este sofrimento.
O projeto Com-versando, que já tivemos algumas postagens sobre ele, tem como uma de suas principais preocupações melhorar o diálogo na ambiente escolar e o nosso maior desafio, tem sido construir uma melhor comunicação entre a família e a escola.
E que desafio!
Na primeira maratona de cuidado que fizemos na escola, propomos diversas atividades para as famílias, para provocar reflexões com estes sobre a educação de seus filhos. E surpreendentemente, tivemos apenas 1 mãe e 1 pai participando, embora muitos apareceram na escola, mas quando convidados a participar das rodas de conversa, diziam não ter interesse e alguns diziam ter ido a escola, pois achavam que seria distribuído algo como uma cesta básica.
Então.... difícil, não!
Mas, o importante é não desanimar e nos agarrar aqueles poucos que se abriram a esta oportunidade e foram à escola em busca de mais conhecimento.

Oficina sobre Enfrentamento da queixa escolar, realizada por estagiários de Psicologia
 
Estagiários de psicologia com a supervisora de estágio Profa. Virginia Alves Passos, que colaboraram com a I Maratona do cuidado, do projeto com-versando na escola Paulo Freire.

Durante a I Maratona de Cuidado, foi percebido que as famílias participam pouco das atividades escolares e comparecem quando há na programação a distribuição de algo, como cesta básica, ou material escolar, com isto programamos nossa segunda atividade destinada á família, que chamamos de Maratona da Família que foi realizada em um sábado pela manhã quando as famílias deveriam ir a escola para receber o material escolar para o segundo semestre, bem como saber sobre o andamento dos estudos das crianças.  E novamente o projeto com-versando conseguiu a colaboração de alguns estagiários de psicologia para facilitarem rodas de conversa entre famílias e professores, para facilitar este diálogo.

Roda facilitada pela profa. Erika, coordenador do projeto com-versando
 

 


Estagiários de psicologia da Univasf, facilitam rodas de conversa com famílias e professores.

Esta segunda ação voltada para a família, foi um momento muito difícil em que revelou o grande muro construído entre a comunidade e escola. As reflexões realizadas após esta experiência nos levou a concluir que estamos diante de uma comunidade sofrida, excluída e neglicenciada, sendo necessário mais ações de cuidado, para só depois conseguirmos um diálogo efetivo.
A seguir o relato de experiência de três estagiárias que participaram desta ação:

"Roda de conversa sobre a relação família-escola"
Grupo de Estágio – Serviço para Famílias
Petrolina, 07 de julho de 2018

Ana Soares Teixeira Leite
Emanoela Souza Lima
Emily Ribeiro da Silva

             "No processo de intervenção foi possível analisar que as famílias não se sentem pertencentes ao contexto escolar, tendo resistência em participar do espaço promovido pelo projeto Com-versando. Alguns participantes trouxeram queixas em relação à escola, apontando que não é possível adentrar no espaço escolar para buscar informações sobre os filhos e/ou estabelecer contato com os professores. Entretanto, a família no momento que teve para dialogar com a escola fez exatamente o movimento contrário, alegando que estavam sem tempo e que não poderiam demorar, apenas estavam ali para pegar o boletim. De alguma maneira, isso pode nos indicar que as famílias, mesmo quando é ofertado um espaço de fala, não se corresponsabilizam, especialmente, no processo da educação formal das crianças/adolescentes, ficando sempre o jogo de pingue-pongue para decidir de quem é a responsabilidade de educar. Apesar de a experiência ter sido difícil, já que foi quase inviável realizar as intervenções e reflexões acerca da “relação família-escola” proposta pelo nosso grupo de estágio, e devido às resistências apresentadas pelas famílias presentes, foi possível notar algumas temáticas que emergiram das falas de alguns pais, como por exemplo: presença de substâncias ilícitas no contexto escolar; pouco contato e relação com a equipe escolar; desejo de que a escola seja mais segura; e respeito nas relações. Consideramos, também, o fator de que algumas famílias moram distante da escola e isso parece dificultar a relação entre essas instituições. As sugestões do nosso grupo refere-se especialmente ao fortalecimento de vínculo entre família-escola, através de oficinas de cuidado para a família (massagem, esporte, práticas integrativas, entre outras) e a proposta da escola de pais."

Após esta ação, uma professora, que é responsável pelos alunos deficientes, solicitou uma roda de conversa apenas com as famílias de estudantes deficientes, e prontamente atendemos a solicitação da professora Jacira e lá fomos nós novamente trabalhar e dialogar com as famílias. Nesta roda de conversa os pais se mostraram bastante abertos ao diálogo e mostraram grande necessidade em falar sobre os desafios em criar uma pessoa portadora de deficiência. 



Neste encontro, ouvi mães que diziam que achavam que iriam tirar seus filhos da escola, pois não via que o mesmo podia aprender a ler, e pudemos refletir sobre todas as potencialidades da escola para o desenvolvimento da pessoa, além da habilidade de leitura e escrita. Algo que revelou a extrema relevância deste encontro.

E assim, seguimos nossa missão de melhorar o diálogo no contexto escolar, por meio das ações do projeto com-versando. 

Neste sábado dia 24 de novembro fizemos a II maratona de cuidado, depois teremos uma postagem para contar sobre mais esta importante ação, mas só para fechar este texto sobre a família e a escola, que estávamos devendo faz tempo, adianto, teve muito mais família na escola!





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