Por Erika Hofling Epiphanio
Vou contar uma história.
No final do mês de setembro uma amiga entrou em contato
comigo para compartilhar mais uma triste história de sofrimento psíquico de uma
adolescente.
Foi em um momento em que eu estava sobrecarregada de
trabalho e que constantemente vinha recebendo notícias como esta em diversos
contextos escolares, me sentindo impotente diante de tanto sofrimento. Minha
primeira reação ao ouvir a notícia transmitida pela amiga foi de esquivar-me
diante desta possível demanda.
Mas, de alguma forma esta notícia me “afetou”, pois havia
ocorrido em um assentamento distante, na área rural da cidade. Logo imaginei
que, ao contrário do que havia acontecido uma semana antes, em que houve um
caso semelhante, com uma estudante de uma escola particular que levou uma
equipe de psicólogos a desenvolver algumas ações de acolhimento e cuidado à
comunidade escolar da qual a jovem fazia parte, pensei: no assentamento distante, dificilmente
haveria algum tipo de apoio e acolhimento à comunidade e tal pensamento
transformou a notícia em demanda afetiva.
Então, como de costume, comecei a pensar em criar uma ação
de acolhimento à comunidade e sei que ações como esta não se faz sozinha. Como
primeiro passo comecei a consultar alunos, estagiários e ex-estagiários e logo
um pequeno grupo de profissionais se voluntariou a ir comigo na comunidade.
E lá fomos nós, sem fazer ideia do que encontraríamos,
apenas fazendo contato com algumas lideranças da comunidade.
E chegamos.
E chegamos.
Um lugar distante, árido e quente.
Nos receberam, nos mostramos abertos e acolhedores a um
grupo de pessoas que iam e vinham prestando solidariedade às famílias da
comunidade.
Após esta missão cumprida, resolvi fazer outra visita a uma
das lideranças da comunidade, pois sentia que ainda havia mais a fazer e lá
fomos nós: nova casa; novo encontro.
E este novo encontro me afetou, me transformou e me
movimentou.
Neste encontro conheci
Ary e Marinalva, pessoas que ouso dizer que hoje são meus amigos. Pessoas
que me fizeram batalhar para construir uma ação que atingisse mais pessoas da
comunidade, pois pude perceber que o adoecimento psíquico na comunidade revelavam
uma comunidade desassistida, negligenciada que carece de cuidado.
Marinalva, Erika e Ary Guilherme.
Para construir esta ação, foi construído uma rede solidária
de cuidado.
Saí convidando colegas professores, estudantes do projeto
com-versando, estagiários, profissionais e uma linda ação com diversas
atividades foi construída.
Foi um sábado de muito calor, que em caravana, saímos do
centro de Petrolina e adentramos o Assentamento Mandacaru para dar e receber.
Conversamos, cuidamos, informamos e até dançamos.
E para finalizar trago trechos de relatos de experiências de
pessoas que participaram da ação facilitando atividades ou vivenciando-as.
“Esta experiência me
fez lembrar que, Psicologia é pensar fora da caixinha. Sair do óbvio. E, que,
quem só sabe de Psicologia, nem de Psicologia sabe”. (relato estagiária de
Psicologia)
“A ação foi linda! A
roda de conversa da qual fiz parte me mostrou o quanto a comunidade é unida. A
experiência foi incrível, aprendi com as vivências dos participantes e fiquei
muito feliz em poder ajudar um pouquinho o Assentamento Mandacaru, falando de
um tema tratado como um tabu que é a dor do suicídio. Ações como essa precisam
ser cada vez mais levadas à comunidade, agradeço à professora Erika pelo
convite e à todos os meus colegas que fizeram parte dessa tarde maravilhosa”.
(estudante de psicologia)
“Essa experiência me
fez perceber novamente que o olhar sensível, a escuta acolhedora e o cuidado é
o que faz sentido quando estamos em contato com xs outrxs.”(psicóloga que
colaborou com a ação)
“Me senti acolhido e
realizado com o evento, gostei de cada momento (sério), foi lindo... Eu sou
apaixonado pelo o âmbito da Psicologia e saúde em geral, tudo que aconteceu
aquele dia só me fez apaixonar mais. Obrigado pela vivência, FOI MARAVILHOSO! “❣(morador da comunidade que participou de várias atividades)
“A ação foi muito
importante para o crescimento e enriquecimento da comunidade, embora não tenha
ido todos foi uma ação fortalecedora e
cheia de paz para os que estavam lá...” (uma das importantes lideranças da
comunidade, que também participou da ação)
“As universidades
públicas no Brasil são subsidiadas pelo dinheiro do contribuinte, esteja esse
contribuinte matriculado ou não nos cursos ofertados por essas instituições.
Participar de uma das atividades do Com-versando é experienciar a satisfação e
a alegria de ver um serviço de qualidade ser ofertada àquela população que,
mesmo sem frequentar a universidade, ajuda a mantê-la. Parabéns à professora
Erika e à sua equipe!” (professora que colaborou com a ação)
Equipe top junto com a comunidade no final das atividades.
Erika e Mário, estudante de Psicologia e técnico de enfermagem, que esteve presente cuidando!
Estudantes de Psicologia e Prof. Marcela, levando informação e cuidado à comunidade.
Roda de conversa sobre ansiedade e depressão com os estudantes Jermyson e Adenilson
Roseana foi a rainha da criançada, diversão e atenção para as mães participarem das atividades
Roda de conversa sobre enfrentamento as dores do suicídio.
Momento de aferição de pressão.
Concluo este texto destacando minha felicidade em poder levar esta ação, pois podemos cuidar e acolher, aspectos da minha profissão que muito me faz sentido e, também ter um espaço de formação potente para os alunos que vivenciaram práticas que os levam a reflexão importante sobre o fazer profissional da psicologia.
Agradeço de coração a tod@s que colaboraram, mostrando que a Psicologia pode ser solidária e pode levar cuidado a qualquer território.
Agradeço de coração a tod@s que colaboraram, mostrando que a Psicologia pode ser solidária e pode levar cuidado a qualquer território.
Agradeço à comunidade do assentamento mandacaru que abriu
suas portas para nós e nos acolheram.
Agradeço especialmente Ary que foi minha
principal referência para fazer acontecer a ação, mas principalmente por ter
tocado meu coração e ter me dado motivos para
voltar.
Parabéns a todos que fizeram parte desse evento maravilhoso, e que não pare por ai, foi muito importante para mim, saber que de alguma forma comerei para ajudar essas família fico muito feliz, me cinto realizada
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