Extra! Extra! O Jornal Feno em notícia está no ar!

Caros leitores, hoje inauguramos mais um projeto aqui do blog do NEPFEE, que é o Jornal Feno em Notícia!

Esta foi mais uma proposta da disciplina Psicologia Fenomenológica Existencial I, em que os estudantes foram convidados a escreverem matérias jornalísticas, sobre alguns temas polêmicos, fenômenos humanos atravessados por várias questões sociais, trazendo conteúdos estudados na disciplina. 

Alguns textos foram selecionados para o blog e vamos compartilhar com nossos leitores.


E vamos para a primeira matéria!

Por Felipe de Oliveira Marcos

 



O tema da violência sexual em crianças segue sendo uma nebulosidade social vigente no Brasil hodierno. Sob essa ótica, os estudos na área da fenomenologia lançam olhares para esse paradigma desafiador, no qual, a partir de afirmações como a da professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP – USP), Maria Beatriz Linhares, a qual alerta que “A violência contra crianças no ambiente familiar tem impactos negativos a curto, médio e longo prazos na saúde física e mental das vítimas e pode levar a um ciclo intergeracional de violência – quando a vítima da violência na infância repete com os filhos os abusos que vivenciou”, deve-se analisar o fenômeno – aquilo que se mostra ou aparece na perspectiva subjetiva de cada um – além do fato – o acontecimento como foi de forma concreta e independente de perspectiva.

Nesse ínterim, a fenomenologia oferece ferramentas de análise, que não trarão resultados em relação a uma solução do problema, mas na compreensão dele, como a redução fenomenológica, que se refere a um exercício de colocar em suspensão o que temos de entendimento prévio sobre algo, como pré-conceitos opiniões ligadas ao lado afetivo, para que assim possa haver uma extração efetiva do fenômeno, sem sobreposição de ideias. A ferramenta citada pode ser utilizada com as vítimas da violência sexual, juntamente com a intencionalidade, a qual implica que “toda consciência é consciência de alguma coisa”, definição dada por Danilo Marcondes, na obra “Iniciação à História da Filosofia”. Assim, a fenomenologia não separa o sujeito do objeto, ponderando que toda consciência é direcionada a algo.

Sob essa égide, é válido destacar que o Brasil registra 673 casos de violência contra crianças de até 6 anos por dia ou 28 a cada hora, e 84% dessas agressões têm pais, padrastos, madrastas ou avós como suspeitos, segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, analisados em estudo produzido pelo comitê científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI). Com isso em vista, Carl Rogers propõe atitudes facilitadoras, que fazem parte da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), onde o conceito de empatia – atitude suspensiva de colocar-se em local de compreensão, suspensão, de fato, da experiência do outro, a partir da experiência dele – é colocado, juntamente, com a congruência – ser verdadeiro para o outro indivíduo, honestidade, em que é necessário a sinceridade de exposição de ambas as partes – somado, também, com o terceiro pilar que é a aceitação – aceitar o ser em potencial, como a pessoa é em essência – para que assim haja uma ação factual na extração do fenômeno da vítima, o que auxiliará ela na sua construção do Self, que, para Rogers, é uma estrutura organizada e em constante  evolução, construída pelas percepções, crenças e valores que alguém atribui a si mesma, em relação a sua personalidade, atitudes, gostos e outros mais, produzidos a partir da interação do indivíduo com o seu ambiente social. Assim, urge, portanto, a necessidade de mover ações a respeito dessa temática, com o fito de mitigar qualquer tipo de determinismo, causa e efeito fixo, no que se refere a violência sexual em crianças, pois, na perspectiva humanista, que afirma a potencialidade infinita que o ser humano possui, e suas relações com o mundo e com os outros, a partir de um olhar voltado para si, o indivíduo será sempre digno e capaz de crescimento. Essa ideia alinha-se com o Self, pois ele é impossível de ser definido, devido sua instabilidade e mutabilidade.

Em síntese, a fenomenologia, não raro, porta um arcabouço focado na análise e compreensão dos fenômenos, como a violência sexual em crianças, com base em teorias e ferramentas auxiliares para atingir seus objetivos.

 

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