O Jornal, Feno em Notícia está de volta e o tema da matéria de hoje versa sobre questões contemporâneas, de grande relevância. Em uma matéria, construída com recortes de textos de três “estudantes/jornalistas”, vamos refletir, sobre redes sociais e sofrimento psíquico nos jovens da atualidade.
Bianca Guerra Menck
Renan Alves Bonfim Dias
Vinicius de Oliveira Gomes
Atualmente, se tem presenciado
no mundo diversas formas de violência a diferentes grupos sociais, no entanto,
uma que tem se revelado bastante proeminente e é pouco investigada é a
violência psicológica contra os jovens.
Que a tecnologia e as redes
sociais impactaram nosso mundo de maneira positiva é inegável, porém, é
importante discutir os impactos negativos que os mesmos têm causado em todos
nós, que as utilizamos em nossa rotina cotidiana. Você sabia que
aproximadamente um em cada 10 adolescentes (13,2%) já sentiu ameaçado, ofendido
e humilhado em redes sociais ou aplicativos? Consideradas as meninas, esse
percentual é ainda maior, 16,2%, e entre meninos é 10,2%. Os dados fazem parte
da Pesquisa Nacional em Saúde Escolar (PeNSE) 2019, divulgada pelo Instituto
Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE). Estamos em face à uma necessidade
urgente de não apenas ouvir tudo que a população, principalmente os jovens, têm
a dizer, mas sim escutá-los completamente, enquanto nós nos reduzimos a
narrativa, para que assim possamos enxergar melhor esse fenômeno em sua
verdadeira forma, sem julgá-lo erroneamente nos baseando em nossas crenças
pessoais. Em relação à saúde mental dos estudantes, metade (50,6%) disse se
sentir muito preocupado com as coisas comuns do dia-a-dia. Um em cada cinco
estudantes (21,4%) afirmou que a vida não vale a pena ser vivida. Entre as
meninas, esse percentual é de 29,6% e, entre meninos, 13%. A pergunta que surge
é: será que nós, como sociedade, temos consciência do motivo real do surgimento
dessa problemática? E se nós não temos essa consciência, como podemos esperar
que os nossos jovens a tenham e consigam atribuir sentido aos seus sofrimentos,
em face a um emocional fragilizado?
Dessa maneira, para entender
este fenômeno, eu, repórter Maria Vitória*, convidei um psicólogo que
atualmente trabalha em contexto escolar para, em parceria comigo, investigar o
que está acontecendo, ou, segundo nosso colega profissional da saúde mental,
compreender como este fenômeno é percebido por estes indivíduos.
Desse modo, para entender o
quadro geral, é preciso antes entender sobre qual perspectiva o psicólogo
Carlos Antônio* trabalha, e como ela se reverbera no seu modo de atuação.
Primeiramente, é importante pontuar que ele segue a linha da fenomenologia, atuando
com a Abordagem Centrada na Pessoa. Para o profissional, seguir com esta linha
é necessária, pois, com ela o que impera é a subjetividade e a perspectiva que
cada indivíduo tem do fato. Isto, ele chama de fenômeno, que se trata sobre
como o sujeito percebe determinado fato. Assim, por exemplo, o trabalho nas
escolas, realizado por ele, começou após se notar a fragilidade desses jovens,
e para compreender a visão deles, logo compreender o fenômeno, foi necessária
intervenção grupal.
Carlos nos contou que, para
que os indivíduos se sintam à vontade é preciso antes que o psicólogo crie este
ambiente propício. Dessa forma, Carlos Antônio trabalha com as atitudes
facilitadoras, elaboradas por Carl Rogers, que são três: aceitação positiva,
congruência e empatia. Na primeira se aceita o outro como ele é; assim, se um
jovem associa um problema de autoestima com algo não aceito socialmente ou que
vá contra os valores do terapeuta, cabe ao profissional não julgar, mas
acolher. Além disso, o psicólogo deve ser sempre honesto e sincero para que a
pessoa atendida se sinta confortável para ser ela mesma, processo este chamado
de congruência. Por fim, na empatia, o profissional deve-se colocar no lugar do
outro. Dessa forma, somente assim os indivíduos participantes sentem-se à
vontade para expressar da melhor maneira sua subjetividade, de modo que, sendo
compreendidos e aceitos podem, por consequência, crescer além do que se espera
comumente de seres em sofrimento psíquico.
É importante destacar que,
para o profissional entrevistado todo ser humano possui uma tendência
atualizante, que se refere a capacidade que o sujeito tem de atingir suas
potencialidades, pois, para a abordagem do Carlos Antônio, esta capacidade é
inata em cada um.
Tendo como certo que as demandas da vida cotidiana podem
afetar esses estudantes de maneira diferentes, para entender a experiência
deles seria necessário fazer uma redução fenomenológica, suspendendo nossos
juízos de valor e realidade que nos levam a fazer pressuposições ao que
imediatamente se apresenta. Assim, não seria adequado dizer que a preocupação
excessiva com as coisas comuns do dia a dia seja decorrente desse ou daquele
fator, é necessário voltar às coisas mesmas, à experiência desses estudantes.
Nesse sentido, a quem se
propõe a ajudar esses estudantes e jovens em situação de sofrimento, é
importante compreendê-los como seres autônomos e que a pessoa que se propõe a
ajudar deve atuar como um facilitador no processo natural de desenvolvimento
desses jovens.
Outros dados da pesquisa do IBGE mostram que os
adolescentes pesquisados, na maioria, possuem insatisfação com o próprio corpo,
em que muitos se sentem mais magros ou mais gordos do que deveriam, o que entra
na questão do self e do self ideal. O self é a identidade da pessoa, como ela
se vê e como os outros a veem pelo que ela se mostra. No entanto, existe também
o self ideal que é o conjunto de características que o sujeito gostaria de
atribuir para si, nesse sentido, quanto mais distantes o self real estiver do
self ideal mais difícil será para a pessoa se aceitar e ter uma estima por si.
Porém, é importante pontuar que o self e o self ideal não são estáticos, a
pessoa está em constante processo de mudança em que ela pode valorizar mais
algumas coisas do que outras durante esse processo, como também, pode mudar sua
própria atribuição de sentido. Portanto, percebe-se a importância de uma
atitude mais humana para que possamos ajudar pessoas em sofrimento nos mais
diversos meios sociais. Para isso, é preciso que paremos um pouco para ouvir o
outro e o que ele tem a contar de sua experiência. É necessário também
aceitá-lo como pessoa que possui um valor inerente; compreendê-lo; e sermos
verdadeiros. No entanto, na vida cotidiana acabamos apreendendo a não sermos
verdadeiros e julgar o mundo e as pessoas sob os nossos próprios pressupostos.
Não nos abrimos e não incentivamos os outros a fazê-lo. Como escreveu o poeta
Fernando Pessoa, sob seu heterônomo Alvaro de Campos, “quem me dera ouvir de
alguém a voz humana que confessasse não um pecado, mas uma infâmia, que
contasse, não uma violência, mas uma covardia, não, são todos o ideal se os
ouço e me falam” e depois ainda acrescenta energicamente “onde é que a gente no
mundo!?”; nesse sentido, para valorizar mais o humano, uma atitude humanista
pode começar primeiro em nós mesmos, pois assim será mais fácil ajudar o
processo do outro e juntos crescermos em nossas potencialidades. O ser humano,
portanto, está sempre em constante mudança e busca sua própria realização.
Para que haja uma mínima
melhora na saúde mental geral dos jovens, seria necessário que todos tivessem
plena consciência dos fenômenos que estão sendo vivenciados coletivamente para
que consigam atribuir sentido para essas experiências e tenham capacidade de
ressignificá-las, por isso que o processo terapêutico é tão importante nessa
fase. Falhamos todos os dias como comunidade ao faltarmos com o incentivo a
prática do olhar empático, congruente e aceitador, isto é, quando não
conseguimos nos imaginar no local do outro para compreendê-lo, quando não conseguimos
agir genuinamente e de maneira transparente em encontro ao outro e quando não
conseguimos aceitá-lo da maneira que ele é, independente da suas ações e
comportamentos, sem julgamentos. Essas atitudes facilitadoras nos permitem não
só entender melhor o outro para construir uma sociedade mais acolhedora e
melhor, mas também entender melhor a mim mesmo, como esse conjunto de processos
de formação que me fazem ser da maneira que sou e que me vejo. No final, nós,
não apenas como indivíduos, mas como um coletivo de seres humanos, temos a
capacidade de estarmos em constante evolução e crescimento e podemos, juntos,
facilitar e ajudar no processo de cura uns dos outros.
DICA DE LEITURA
*
dados fictícios, o profissional e a jornalista não existem de fato
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