A angústia sartreana e a música "A Lista" de Oswaldo Montenegro

O texto de hoje trata-se de uma reflexão do monitor das disciplinas Feno I e Feno II de 2022. E com este lindo texto concluímos a piblicação dos alunos de 2022.1 e 2022.2

 Por Lucivando Costa Barros

A angústia sartreana e a música "A Lista" de Oswaldo Montenegro estão intrinsecamente ligadas por explorarem aspectos profundos da existência humana e da reflexão sobre a vida e a morte. A angústia, conforme abordada por Jean-Paul Sartre, emerge da liberdade absoluta do indivíduo e da responsabilidade de atribuir sentido à própria vida (SCHNEIDER, 2006). Essa angústia surge quando nos deparamos com um leque vasto de possibilidades e a ausência de um propósito objetivo, palpável, levando-nos a questionar a própria essência da existência e a nos defrontar com um sentimento potente de vazio e incerteza.

Por sua vez, a canção "A Lista" de Oswaldo Montenegro traz à tona sentimentos semelhantes de introspecção e reflexão. A letra da música gira em torno de uma lista de tarefas e desejos que alguém deixa para trás antes de partir, possivelmente referindo-se à morte do ser. A lista abarca desde tarefas simples até anseios profundos, como "Quantas mentiras você condenava’ ‘Quantas você teve que cometer " e "Quantos defeitos sanados com o tempo’ ‘Eram o melhor que havia em você ".

A interligação entre a angústia sartreana e a música de Montenegro reside na maneira como ambas exploram a busca por significado e a tomada de decisões (GOIS, 2015). A lista de anseios na música assume um papel simbólico, representando as múltiplas escolhas que a vida apresenta e a angústia subjacente à responsabilidade de fazer escolhas determinantes. A canção também aborda a transitoriedade da vida, ecoando a temática existencialista de Sartre, que enfatiza a inevitabilidade da morte e o impacto das escolhas diante dela.

A sensação de urgência na música, ao se referir à lista antes da partida, pode ser interpretada como uma expressão do confronto com a liberdade e a responsabilidade de definir o próprio legado, uma ideia profundamente conectada à filosofia existencialista. Tanto a angústia sartreana quanto a mensagem de "A Lista" nos convidam a refletir sobre como vivemos nossas vidas, quais escolhas fazemos e que marcas deixamos para trás, considerando a finitude inerente à existência humana o impacto por nossas escolhas.

O tempo presente na contemporaneidade permitiu avanços no pensamento imaterial e material de nossas existências (TEIXEIRA, 2017), mas ainda incapaz de solucionar mistérios sobre desencontros da vida. Ao atribuir a nós mesmos o maior papel diante desse espetáculo que é a vida, nota-se o quanto a reponsabilidade humana não é só condizente com suas consequências, mas ligada à sua própria conjuntura vivencial existencial.

A angústia sartreana e a música "A Lista" entrelaçam-se ao explorar a complexidade da condição humana, a liberdade de escolha e a busca por significado, ao mesmo tempo em que enfrentam as realidades da mortalidade e das escolhas que moldam nossa trajetória. Ambos os trabalhos nos instigam a examinar nossas próprias jornadas e a considerar a importância de nossas ações e escolhas no contexto mais amplo da existência.

Referências

A LISTA. Roteiro: Oswaldo Montenegro. 2014. (3 min.), son., color. Disponível em: https://youtu.be/LiWXw65RWw0?si=OVrsvaz1G1MApsok. Acesso em: 23 jul. 2023.

GOIS, C. Sartre: da consciência do ser e o nada ao existencialismo humano. Reflexão[S. l.], v. 32, n. 91, 2015. Disponível em: https://periodicos.puc-campinas.edu.br/reflexao/article/view/3067. Acesso em: 24 ago. 2023.

SCHNEIDER, Daniela Ribeiro. Novas perspectivas para a psicologia clínica a partir das contribuições de JP Sartre. Interação em Psicologia, v. 10, n. 1, 2006.

TEIXEIRA, t. Desafios contemporâneos sob a luz do existencialismo humanista de sartre. Sapere aude, v. 8, n. 16, p. 457-468, 21 dez. 2017.

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