Projetos sociais esportivos: sua importância como agentes transformadores

 por Maria Luiza de S. Santana


Parte dos integrantes do projeto se preparando para uma intervenção

    Devido às desigualdades socioeconômicas encontradas no Brasil, há um histórico de ações empreendidas no sentido de minimamente remediar os efeitos que isso implica na população. Desde ações governamentais àquelas iniciadas por organizações sem fins lucrativos, os projetos sociais se configuram como tentativas de oferecer serviços complementares que buscam concretizar os direitos cidadãos. E dentre estes, se encontram os projetos sociais esportivos.
    O esporte é um fenômeno que tem impactado positivamente em sociedades no Brasil e em todo o mundo. Ele se constitui como uma linguagem universal que transcende barreiras culturais, sociais e econômicas, e por meio de programas sociais, tem o potencial de promover inclusão, desenvolvimento de habilidades, saúde, coesão social e crescimento pessoal. Através de programas sociais dessa modalidade, crianças e jovens têm a oportunidade de participar de atividades esportivas, adquirindo, para além das habilidades necessária para a prática do esporte, valores sociais e autoestima.
    Cortês Neto, Dantas e Maia (2015) trazem como um dos principais benefícios dos projetos sociais esportivos o movimento oportunizar espaços de transformações permanentes cognitivamente, pessoalmente, e principalmente socialmente. Através deles, ao seu público infanto-juvenil, são proporcionados o sentimento de pertencimento, os laços de amizade, a busca por objetivos comuns, as responsabilidades assumidas, o apoio, a cooperação entre os jovens, a aquisição de maior força de representação na comunidade e a permanência de algumas destas relações mesmo fora da pista de atletismo (CORTÊS NETO; DANTAS; MAIA, 2015)

Intervenção sobre atenção com as crianças mais jovens do projeto e uma linda interação entre uma delas e uma das integrantes da extensão

    Mesmo alguns esportes, como o atletismo, se configurarem como uma prática individual, o momento grupal proporcionado por projetos desse caráter possibilita a construção de noções de inclusão e cooperação. Quanto à inclusão, Viana-Meireles e colaboradores (2020) citam pessoas com deficiência e mulheres como aqueles a quem o esporte historicamente deixou marginalizado.

    Pessoas com deficiência, mesmo fora do contexto esportivo (mas principalmente nele), são vistas como pessoas sem capacidade de independência, e projetos esportivos possibilitam a inclusão social delas a partir da ressignificação da concepção de deficiência, e na criação de oportunidades de acessibilidade às práticas esportivas, como é o caso dos esportes paralímpicos (VIANA-MEIRELES et al., 2020). A igualdade de gênero também tem sido possibilitada dentro da prática esportiva, transformando a concepção de que mulheres são seres frágeis ou incapazes de obter sucesso em um espaço predominantemente masculino (IDEM).

    Já quanto à cooperação, para Brotto (1999 apud SIMÕES, 2016), esta é uma força unificadora que congrega um grupo de indivíduos com interesse separados numa unidade coletiva. Nesse sentido, a prática esportiva possibilita que indivíduos distintos possam trabalhar de forma a conseguir um objetivo em comum, mesmo quando o esporte é individual, superando dicotomias como ganhar e perder; melhor e pior; sucesso e falha.

    Isto posto, para além dos ensinamentos técnicos do “como fazer” voltado para a performance, projetos sociais esportivos também trazem a importância de um trabalho com viés educacional, onde o esporte ocorra como lazer, mas também como um momento de cidadania, com valores positivos (PONTES, 2018).

    No Vale do São Francisco, a “APA Centrinho”, um projeto social desenvolvido pela Associação Petrolinense de Atletismo voltado para o público infanto-juvenil, em toda a sua abrangência de faixa etária, atua promovendo os valores da iniciação esportiva no atletismo, além daqueles como inclusão e cooperação, à medida em que os trabalhos realizados não distinguem meninos e meninas, e muito menos neurotípicos e neuroatípicos, ou pessoas com e sem deficiência. Todos treinam e trabalham juntos com um só objetivo: o atletismo.

    E apesar de a iniciação esportiva não pregar a especialização precoce, já que a primeira pode ser tanto uma etapa inicial para futuros atletas quanto uma etapa elementar de formação do indivíduo, utilizando-o apenas em sua vida diária (MIRANDA et al., 2013), programas sociais esportivos podem fornecer a crianças e adolescente a visão de esporte como carreira na vida adulta, servindo como um norte que envisiona o presente como motor do futuro.

    E qual o papel da psicologia nisso tudo? Segundo Isabelle Pontes (2018), o papel psicológico implica em “apostar no esporte como inclusão social, entendendo como uma importante forma de intervenção psicossocial” (p.3). Munida de seu conhecimento não só sobre o psiquismo humano, mas também sobre os impactos que o social possui sobre aquele, além de questões políticas sobre direitos cidadãos, a psicologia é capaz de trabalhar nestes projetos com as potencialidades do sujeito dentro do contexto esportivo, e pode, juntamente com o profissional de educação física, elaborar atividades que potencializem os aspectos subjetivos, promovendo a inclusão, cooperação e uma mudança do indivíduo pelo coletivo.

Alguns dos adolescentes contemplados pelo projeto se divertindo durante uma das intervenções sobre atenção e agilidade.

Bibliografia

CORTÊS NETO, E. D.; DANTAS, M. M. C.; MAIA, E. M. C. Benefícios dos projetos sociais esportivos em crianças e adolescentes. Saúde & Transformação Social / Health & Social Change, p. 109–117, 2015.

MIRANDA, A. et al. Iniciação esportiva e especialização precoce. Revista Digital EDFesportes, v. 18, n. 181, jun. 2013.

PONTES, I. F. O esporte como via de ruptura do fatalismo: conscientização e empoderamento. Trabalho de conclusão de curso—Campos dos Goytacazes: Universidade Federal Fluminense, 2018.

SIMÕES, S. V. C. Jogos Cooperativos como instrumento de inclusão. Trabalho de conclusão de curso—Brasília: Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, 2016.

VIANA-MEIRELES, L. G. et al. Projetos esportivos sociais para adolescentes no Brasil: impactos, implicações e barreiras. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 18, n. 1, p. 77–82, 13 abr. 2020. 



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