TRANSIÇÃO DE CARREIRA NO ESPORTE: CONSTRUINDO CAMINHOS

por Fernando Martins

O NEPFEE realizou, na última segunda-feira (31/03), o primeiro Com-versas do ano. E para dar início aos nossos bate-papos, contamos com as presenças da psicóloga e jornalista Kátia Rúbio e das atletas de ciclismo e profissionais de educação física Cristiane Silva e Viviane Lourenço para falar sobre um tema bastante caro, porém delicado: a Transição de Carreira no Esporte.

Mudar de rota na vida não costuma ser fácil, em especial quando se trata de uma estrada percorrida ao longo de anos, talvez décadas, como a mudança de profissão. Esse Com-versas buscou construir caminhos sobre esse dilema tão presente e pertinente na vida dos atletas, que se veem, como pontuou a Kátia Rúbio, em sua primeira fala, diante da necessidade de “lidar com uma nova identidade”. Se desfazer dessa imagem é muito difícil pois, como ainda afirmou a Kátia, "a identidade de atleta é uma âncora na qual a pessoa se estabelece no mundo". Essa identidade se consolida e marca o resto da existência do atleta, e por isso Kátia defende a utilização do termo pós-atleta para se referir à condição do fim de carreira. Apesar do afastamento das competições, o profissional não deixa de ser atleta, ele se torna um pós-atleta, carregando consigo toda a bagagem de uma vida dedicada ao esporte.

Ao falar sobre sua experiência no processo de transição, Viviane conta que, enquanto pós-atleta, encontrava dificuldades de se desligar disso, porém acabou, enquanto treinadora, encontrando ajuda ao transferir para os seus atletas aquilo que ela viveu enquanto profissional. Viviane ainda comenta sobre a importância de tornar o processo mais leve e estar em paz com a decisão antes de tomá-la. Já Cristiane indicou que sempre programou o seu processo de transição e se preocupou com a vida de pós-atleta. Ao perceber que sua vida como atleta profissional não fazia mais sentido, ela tomou a decisão de parar. 

Sobre esse processo de preparação para a transição, Kátia ainda dá destaque para a necessidade de mobilizar-se em prol do estudo. Os atletas, antes mesmo da aposentadoria, podem investir em sua própria formação e as organizações podem fornecer meios para isso, como com as bolsas de estudos.

As atitudes mencionadas pelas nossas convidadas falam de um componente fundamental no momento da transição: o do cuidado. Esse momento demanda do atleta um cuidado com seu corpo, com sua história e com sua identidade. Identidade essa (de atleta) que não deixa de existir, mas apenas se transforma. E por isso o termo “pós-atleta” é tão conveniente. 

O Papel do Psicólogo do Esporte

O psicólogo que trabalha no contexto esportivo acaba tendo o papel de facilitador para o processo de transição de carreira, trabalhando, segundo Kátia, com a especificidade do atleta, e dando apoio para as opções que são feitas por eles durante e após a sua carreira. Além de lidar com a ansiedade, com a emoção do atleta etc., a psicologia do esporte trabalha “no sentido de preparar o atleta para os momentos de alta tensão”, além de ser um “tradutor das muitas expectativas e das muitas linguagens utilizadas na preparação de uma única pessoa”.

O psicólogo é, portanto, um agente em prol desse cuidado que falamos a pouco, e seu trabalho é fundamental em todas as etapas da carreira de um atleta.


Caso deseje (re)assistir ao programa, clique aqui https://www.youtube.com/watch?v=U3RyqgpxPwY. Lembramos que neste mês de abril teremos o segundo Com-versas, e em breve divulgaremos mais informações. Até lá!

Indicações de leitura

Para aqueles (as) que se interessam pelo tema, recomendamos o artigo da Keila Sgobi de Barros, intitulado Recortes da transição na carreira esportiva https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-91452008000100002&lng=pt&nrm=iso, bem como a matéria publicada aqui no blog do NEPFEE e organizada pela nossa coordenadora, Erika Hofling Epiphanio, intitulada Transição de carreira no esporte: uma reflexão necessária https://nepfe.blogspot.com/2020/06/transicao-de-carreira-no-esporte-uma.html.


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