Por
Erika Hofling Epiphanio
Vice-presidente
da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte
No texto de hoje, vamos falar sobre metas, ou melhor, sobre Estabelecimento de Metas (EM).
A escolha do tema se deu,
após conversar com alguns atletas, durante este período da pandemia, que
apontaram a dificuldade de manter o foco nos treinamentos, mesmo aqueles que
ainda estão conseguindo treinar, pois com a suspensão dos calendários
competitivos, fica-se um vácuo na programação de treinamento destes.
Este tema é de grande
relevância no trabalho da Psicologia do Esporte com atletas e paratletas e, no
momento atual, tem se apresentado como necessário, ser visto e revisto de acordo com o que de novo nos apresenta.
Para falar sobre o tema,
convidamos dois psicólogos, especialistas em Psicologia do esporte. Vamos às apresentações!
Luciana
Ferreira Angelo é graduada em Psicologia pela PUC-SP (1992),
Mestre em Educação (2002) e Doutora em Ciências (2014). Possui experiências na
área esportiva desde a graduação, tendo atuado em projetos sociais, iniciação
esportiva, reabilitação, alto rendimento, pesquisa e educação. Atualmente, exerce
atividades profissionais relacionadas à área clinica do esporte em consultório
e com assessorias esportivas. É coordenadora e professora dos Cursos de
Psicologia do Esporte na Extensão EaD e Aperfeiçoamento e Especialização no
Instituto Sedes Sapientiae (SP) e atual primeira secretária da Abrapesp (Associação
Brasileira de Psicologia do Esporte).
Rodrigo de
Vasconcellos Pieri (CRP 05/33408 RJ) é psicólogo e atua em Psicologia do Esporte desde 2010. Especialista
em Psicologia e Neurociência do esporte. Mestre em Psicologia Social pela UERJ
e doutorando pela mesma instituição. Possui experiências em projetos sociais,
iniciação esportiva e alto rendimento. É professor universitário, ministrando
disciplinas de PE em algumas universidades no Rio de Janeiro. Possui consultório
no Rio de Janeiro, atendendo demandas clínicas e esportivas de diversas
modalidades esportivas. É sócio fundador da ASSOPERJ e associado da ABRAPESP
onde foi vice-presidente na gestão (2018-2019) e atualmente está como
coordenador do Núcleo de Psicologia do Esporte no CRP-RJ.
Para início de conversa,
nossos entrevistados explicam o que é o Estabelecimento de Metas (EM).
Luciana Angelo define o
EM como “uma das ações que compõem um plano de
trabalho constituído pelo planejamento e periodização psicofísica para o atleta
de alto rendimento. Este plano é elaborado a partir da definição de
necessidades identificadas e/ou objetivos a serem conquistados no
desenvolvimento de competências psicológicas previstas nos ciclos de
treinamento esportivo”. E Pieri complementa que embora seja muito utilizado
no alto rendimento, pode ser pensada também na iniciação esportiva e esporte
amador, pois “possui uma
função norteadora, de trazer propósito para a jornada e oferecer ritmo e
direção, o que é muito positivo para a carreira do atleta”.
~
Como se trabalha com Estabelecimento de Metas? ~
Então vamos lá, Pieri
considera fundamental que as metas sejam estabelecidas pelas equipes e atletas,
que não seja algo do psicólogo para o atleta, diz Pieri “eu trabalho muito com as metas estabelecidas pelo próprio atleta. Não basta apenas estabelecê-las, mas pensar
em quais são as possibilidades reais, o que tem sido feito na busca destas
metas, qual o sentido desta meta para o atleta... temos que entender todo o
processo, pois temos que ter um olhar amplo e profundo”.
Os autores Weinberg
& Goud (2001), citados por Luciana Angelo, apontam três tipos de metas. São elas metas de
resultado, de desempenho e de processo. “Dentre
elas, a de resultado eu avalio que são as que menos o atleta tenha
gerenciamento, pois as variáveis influenciadoras de resultado são distintas
(condições climáticas, arbitragem, fases do atleta ou equipe durante as
competições, condições dos adversários, métodos de treinamento, entre outras).”
Luciana ainda explica: “que as metas de
desempenho são metas calculadas pela comissão técnica e, dependendo do passo a
passo, do processo a ser realizado podem ser realizadas ou não e as metas de
processo são metas definidas e trabalhadas em conjunto com a comissão técnica
já que estão relacionadas a execução de um gesto técnico, por exemplo, a uma
técnica específica de ataque ou defesa e, para a obtenção de desempenho, alguns
protocolos de treinamento mental devem ser aplicados”. (Matéria sobre treinamento mental e esporte: http://nepfe.blogspot.com/2020/04/treinamento-mental-e-esporte.html).
E então Pieri conclui que é “importante
trabalhar dentro de uma visão temporal, e sempre é válido rever estas metas e o
processo. E a cada vez que as metas são atingidas é necessário verificar a
necessidade de reestabelecer novas metas”.
~
Estabelecimento de Metas na quarentena ~
Pedimos aos nossos entrevistados para
falarem um pouco sobre como eles têm trabalhado com estabelecimento de metas
durante a quarentena.
Luciana Angelo nos conta: “Durante a
quarentena, o que tenho trabalhado junto aos atletas é identificar a percepção
do momento vivido e quais as necessidades que se apresentam. Esta fase deve ser
entendida como fase do destreinamento. Esse entendimento facilita a adaptação e
a motivação para a retomada. Desde o início da situação da quarentena, semana a
semana temos revisto as necessidades e as metas. Em algumas modalidades os
atletas estariam em seu auge competitivo, em outras, ainda na preparação para a
competição. Por isso, de acordo com o estágio atual e as condições
psicofísicas, as metas precisam ser alteradas para que possam ser executadas
com o melhor nível de adaptação sem se tornarem fontes de estresse”.
Pieri diz que tem atletas que tem sido necessário trabalhar o EM “como adaptação da parte esportiva, devido
a suspensão de calendário, pois não se sabe, no momento, qual o prazo que o
atleta deve estar em determinado nível” e o psicólogo ainda destaca que “vai depender da realidade e possibilidades
de cada atleta. Uma coisa que tenho trabalhado muito é a possibilidade de
assistir filmes, séries ou programas de TV (ou qualquer outro recurso) que
estejam relacionado com esporte. Vejo como uma maneira de se manter no espectro
esportivo. Só que novamente, depende do e da atleta”.
~
Dicas dos profissionais para atletas e paratletas ~
durante a quarentena
Antes de mais nada, como bem pontuado por
Pieri durante a entrevista não é papel do psicólogo dar dicas, pois cada
pessoa, cada atleta tem suas particularidades “Quem sou eu para dar dicas para alguém? Ainda assim, posso dizer o que tenho
feito em relação ao meu processo de quarentena ou o que tenho trabalhado com
atletas que acompanho. Por exemplo ler livros, escutar música, tocar algum
instrumento, assistir filmes ou séries... mas isso é da realidade e do gosto de
cada um. O importante é buscar o que dá prazer e é saudável ao mesmo tempo”.
Dicas da Lu: “Acredito
que o momento
exige agir em prol do autocuidado. Parece
fácil, mas para o atleta de rendimento essa é uma oportunidade rara para avaliar pontos a
melhorar. Buscar o equilíbrio entre as
demandas pessoais e o trabalho que realiza no esporte é agora oportunizado pelo
tempo para adequar as necessidades aos valores esportivos, como disciplina,
perseverança e resistência auxiliando na autoestima e autocuidado”.
Dicas do Pieri: “Algo
que tenho falado de forma geral, não só para atletas é estabelecer rotinas, não
se cobrar tanto, pois estamos tendo que entender este novo cenário.
Considerar que a situação
acometeu a todos. Manter conectado com sua comissão técnica e ficar atento ao
que cada instituição ou organização esportiva esta publicando, para se preparar
para o que vem por aí. Identificar coisas que fazem bem para si mesmo, para
inserir momentos com esta atividade, seja música, leitura, filmes, etc”. E ainda Pieri recomenda: “Procurar
ajuda profissional caso sinta necessidade para enfrentar suas dificuldades”.
E pedimos aos nossos
entrevistados indicaram livros, filmes e redes sociais.
Segue:
Livros
e textos:
>> Psicologia do esporte e do exercício:
modelos teóricos e intervenção. Disponível em: https://www.amazon.com.br/Psicologia-Esporte-Exerc%C3%ADcio-te%C3%B3ricos-interven%C3%A7%C3%A3o-ebook/dp/B0817YBWBN;
>> Referências técnicas para atuação de psicólogas(os)
em políticas públicas de esporte- CFP. Disponível em: https://site.cfp.org.br/publicacao/referencias-tecnicas-para-atuacao-de-psicologasos-em-politicas-publicas-de-esporte/;
>> Ensaio
sobre a cegueira, de Jose Saramago;
>> Nunca deixe de tentar, de Michael Jordan;
>> Destreinamento e transição de carreira no esporte –
Katia Rubio (org). Disponível em: https://www.amazon.com.br/Destreinamento-Transicao-Carreira-No-Esporte/dp/8580401518.
Series e filmes:
>> 127
horas (2010), de Danny Boyle;
>> Losers (2019), de Mickey Duzyj;
>> Um
Contratempo (2017), de Oriol Paulo;
>> Spin out (2020), de Netflix.
Podcast:
>> Nucleo SCORE: https://www.nucleoscore.com.br/podcast;
>> O Cientista do Esporte (globo.com): https://interativos.globoesporte.globo.com/podcasts/programa/o-cientista-do-esporte/;
Instagram e sites:
>> Abrapesp: https://www.abrapesp.org.br/;
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